segunda-feira, 22 de junho de 2009

Viva o Espírito da Aventura!


Leandro Altheman


Confesso que fiquei um pouco acuado ao ver aquele alemão, no sítio onde eu moro. A primeira sensação é de que: “Meu Deus, eles estão chegado!”. Como se fossem uma espécie alienígena pronta a dominar a Terra. Depois, vencendo o preconceito e os arroubos “psedo-nacionalistas”. Resolvi conhecer aquele estrangeiro, que viera de tão longe para um sítio na Boca da Alemanha em Cruzeiro do Sul.

Aos poucos aquela impressão negativa foi de desfazendo. Daniel (um nome tão “brasileiro”) é açougueiro em sua cidade natal: Ehingan, no Sul da Alemanha é a nascente do famoso rio Danúbio. Daniel, um rapaz de 32, trabalhou por cerca de 7 anos para juntar o dinheiro suficiente para a viagem de seus sonhos. Embarcou sua motocicleta BMW no porto de Hamburgo e desembarcou-a no Chile. De lá veio dirigindo pela América do Sul através de montanhas, desertos e florestas do Chile, Argentina, Bolívia e Peru. De Cuzco, desceu os Andes até Puerto Maldonado e de lá dirigiu até Rio Branco. Ainda foi de moto até Sena Madureira, mas ao descobrir que estrada para Cruzeiro do Sul estava fechada, deu meia volta para Rio Branco. Mesmo assim, pegou um avião e veio conhecer a mundialmente famosa capital do Juruá.


Senti um profundo apreço e admiração pelo aventureiro. Não fosse eu próprio um aventureiro, não estaria aqui. Em 1999 sai de São Paulo em viagem através do Pantanal até a Bolívia, Peru e finalmente Acre, onde resolvi viver e estou até hoje. Ufa! Que aventura. Aventura maior foi casar com uma acreana e criar dois filhos no Juruá, vivendo de Jornalismo. Embora faça coisas relativamente normais no meu dia-a-dia, no meu íntimo sei que deixei uma vida relativamente confortável para trás e desde então minha vida tem mais cor e mais sabor.

Viva o espírito da aventura!

Afinal de contas é ele o que move as descobertas desde o início dos tempos. Foi o contato com a realidade da América do Sul vivida em sua aventura de motocicleta que alimentou em Che Guevara o ideal revolucionário! Ou seja, que tem coragem de viver uma aventura como esta, tem também a sensibilidade para conhecer e respeitar as peculiaridades da cultura de cada povo.

Ah! Sobre a questão do estrangeiro, cheguei à óbvia conclusão de que um alemão montado em uma motocicleta não faz nenhuma afronta à soberania nacional na Amazônia. Afronta fazem aqueles lá nos gabinetes em Brasília que querem terminar de privatizar o que ainda nos restou!

Para Daniel e a todos os aventureiros, Boa Viagem!

sábado, 20 de junho de 2009

A Lição da Montanha

“Passeavam na montanha, um velho monge tibetano e seu discípulo quando avistaram em meio a neve um filhote de passarinho. O monge apanhou em suas mãos o filhote paralisado de frio, entre a vida e a morte e o acalentou junto ao peito. O jovem discípulo sentiu em seu coração o calor do amor do velho monge, como se, fosse ele próprio o filhote. O velho então avistou próximo ao caminho, um monte de estrume, recém defecado por um boi que pastava naquela áreas. A fim de que prosseguissem sua jornada, ele aninhou o passarinho no estrume, que sentindo o calor a sua volta, passou a piar com efusiva alegria. Mais alegre ficou ainda o discípulo, vendo que o venerável mestre havia salvado a vida do filhote, respeitando mesmo as menores criaturas, como mandam os ensinos orientais. Eis que então surge do alto, alertado pelo feliz piado do filhote, um veloz gavião. O gavião mergulha por sobre o esterco e em um só golpe leva o passarinho em suas garras.

- Oh!Mestre, quanta injustiça ! Disse o discípulo em meio às lágrimas.

O Monge então falou, do alto de sua bem-humorada sabedoria, como competem aos mestres do oriente:

- Devemos tirar do episódio não uma, mas três importantes lições!

- E qual seriam, venerável mestre?Disse o discípulo, enquanto enxugava as lágrimas nas mangas de seu hábito.

- Primeiro: - Nem sempre quem te põe na merda, é seu inimigo!

-Segundo: - Nem sempre quem te tira da merda, é seu amigo!

- E, terceiro: - Se estiver na merda, não pie!"


Leandro Altheman

Até ontem, é verdade, estava me sentido como uma criança que vê o Brasil perder a Copa do Mundo. Tristeza igual só senti em 1982, quando vi a seleção de Zico, Sócrates e Falcão, perder para a Itália de Paolo Rossi*. Afinal, foi grande a preparação para aquela Copa da Espanha, e todos achávamos que o Brasil seria Tetra.

Mas nem a vitória do Corinthians sobre o Inter conseguiu me alegrar. Afinal, com uma canetada, o STF, comandado pelo ministro Gilmar Mendes, puseram por terra cinco anos de estudo na Faculdade de Jornalismo. Senti como uma fragorosa derrota em minha vida pessoal.

Nesta postagem, não vou abordar os aspectos políticos desta grande estupidez que fizeram. Ou talvez não tão estupidez assim, uma vez que favorece aos interesses que o ministro defende tão bem.

Fico apenas no aspecto pessoal. Eu, Leandro, uma pessoas cujos sonhos me trouxeram até estas distantes paragens. Quisera apenas eu, contribuir com este amado Acre, este amado Juruá. No entanto, recebi em troca, muito mais do que doei. O ar destas florestas alimentou a chama de uma esperança adormecida. Acho que jamais poderei pagar por isso. Mais do que o reconhecimento profissional que obtive nestas terras, inteirar-me das lutas e contradições de seu povo, fez-me sentir vivo, desperto, deu-me um sentido como nunca antes. Por tudo isso, sou grato desde aqueles que me deram oportunidade de trabalho até os mais humildes entrevistados: gente simples, das ruas, agricultores, donas-de-casa que alimentaram o oficio cotidiano de mostrar o Juruá ao Juruá.

Costumo dizer que a nossa profissão, embora técnica, em alguns momentos se aproxima da arte. Afinal, em tudo há uma mensagem, não apenas nos “press-release”, ou boletins de ocorrência, mas também no pôr-do-sol, no sorriso de uma criança, nas lágrimas de uma mãe. Decodificar estas mensagens é a parte artística que cabe ao Jornalista.

É verdade: não há faculdade capaz de fazer, por si só, despertar a sensibilidade artística e poética em cada jornalista. E sem a poesia, a notícia é apenas vida em preto e branco. A “informação pura”, não traz em si o sentido da vida, pois é o abstrato quem verdadeiramente nos move.

Já que a comparação com o Jornalismo é agora a culinária (uma arte a qual aprecio tremendamente) posso dizer que há poetas da cozinha, que unem o impensável para dar sabor ao imaginável. Mas há também aqueles que só sabem fazer o arroz com feijão (que também alimenta, engorda e faz crescer). Não é preciso faculdade para saber disso. Também não é preciso grande capacidade intelectual para saber quais são os interesses que movem o ministro a uma decisão desta.


Mas, como disse tão bem o monge: "nem sempre que tem põe na m... é teu inimigo!"


Pois o ofício cotidiano da notícia às vezes nos impede de enxergar este algo mais. De tentar novos sabores na notícia. A segurança de uma redação, embora desejável do ponto de vista trabalhista por vezes massacra o artista que existe em cada jornalista e acabamos preferindo o arroz com feijão.

Uma puxada de tapete destas pode ajudar a devolver ao Jornalismo, um dinamismo, que, mais na frente, irá comprometer os interesses que o ministro com ela defendeu. Livres, do medo e da falsa sensação de segurança iremos alçar vôos ainda maiores.

Coragem!Convido a todos para que combatamos nesta seara. Movidos por um código de ética,

como o "Bushi-Dô" dos Samurais, sem temer a morte ou a derrota, seremos livres, lancemos nosso grito, nosso uivo. Lancemos mão das novas armas, a Internet, os sites, os blogs, e um dia, veremos cair por terra o monopólio da informação e do pensamento.


“No alto da torre a Coruja tudo vê!”







"No alto da montanha Gavião Piá – Piô!”




* Na foto, Zico com a camisa rasgada por um zagueiro durante uma ofensiva na área adversária. Era Penalti, mas o Juiz não viu.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

USP – O Gueto paulista da insurreição

Leandro Altheman

Lembro-me com saudade da Praça da Torre do Relógio – espécie de marco zero na Cidade Universitária.

Ao redor dele podia-se ler: “No Universo da Cultura o Centro está em Toda Parte”.

A USP era para mim, assim como para muitos uma espécie de refúgio para a aridez de São Paulo. Em todos os aspectos. A grande quantidade de áreas verdes, os espaçosos vazios entre os prédios públicos, museus, cinemas e teatros – um grande contraste com o restante da cidade: um emaranhado claustrofóbico de tráfego pesado, becos escuros e violência urbana. Muita gente sentia uma espécie de “culpa” de estar ali, quando o resto da cidade fedia a enxofre.

Mas não eram apenas os espaços arejados na Cidade Universitária. As idéias também o eram, como aliás sempre o foram. Na década de 90 o neoliberalismo estava a todo vapor e era difícil em qualquer lugar, encontrar opositores a ele. Na USP, contudo, havia sempre a resistência. Os insurretos estavam lá de todas as matizes. Haviam socialistas, comunistas e embora os petistas fossem alí maioria, havia ainda outros grupos trotskistas, mais ou menos organizados em partidos e facções. Os anarquistas eram uma minoria barulhenta. Eram poucos mais estavam em toda parte. Na época eles preenchiam um certo vazio deixado pela falta de uma teoria que explicasse as coisas a partir de um ponto de vista contemporâneo. Diziam apenas: “Se Rebelar é preciso!” Acabei não me definindo por nenhum grupo. Tinha apenas a convicção de ser de esquerda e apoiava qualquer manifestação anti-neoliberal. Minhas idéias não estavam claras, mas tinha certeza daquilo que não queria.

Assim foi na ocasião em que o então Ministro da Educação, Paulo Renato, foi visitar a USP. Discutia-se a privatização das universidades, com o argumento pífio de que apenas os estudantes de escolas particulares conseguiam entrar na universidade. Só esqueciam de dizer que o ensino fundamental também deveria ser responsabilidade do estado.

A reitoria foi cercada. Nunca vi tantas cores e bandeiras juntas. Vermelhas, Negras, Verde-Amarelas. Todas protestavam contra a política “Poncio Pilatos”(lavo minhas mãos) de FHC e de seu ministro.

Mas sabíamos ser uma exceção. Uma honrosa exceção é verdade, mas sabíamos ser uma pequena minoria, na caótica megalópole.

Hoje felizmente os tempos são outros. A exceção fortaleceu-se e pode vir a tornar-se regra. A crise financeira do capitalismo mundial reascende as chamas da esperança de um novo socialismo. Na América Latina florescem os regimes de Evo Morales e Hugo Chavez, que apesar de todos os seus problemas, propõem uma alternativa ao atual sistema. No Brasil, embora Lula não tenha rompido de todo com o neoliberalismo, a mudança de rumos é visível, é perceptível (não se pode mudar a direção de um trem ou de um navio abruptamente, correndo-se o risco de perder totalmente o controle. Esta é uma lei da física, a Inércia).

Quando vejo hoje a universidade toda embandeirada, em uma insurreição contra o neoliberalismo tucano que manda e desmanda em São Paulo, sinto orgulho de ter feito parte desta história. Ainda que o Ministro Gilmar Mendes diga que meu diploma não vale bulhufas, a experiência social e política, dentro de uma universidade, mais do que mesmo a sala de aula, me preparou para o exercício da profissão.

Não apenas aceitando os “fatos” pintados pela grande imprensa, como o rebanho conduzido pelo chicote, pelo, laço e pelo berro (coisas que o ministro pecuarista conhece bem), mas com o senso crítico, a visão capaz de discernir os contornos de todas as coisas (não é a toda que a Coruja, símbolo da sabedoria, goste de fazer o seu ninho na Torre do Relógio).

Ainda hoje vejo em meus olhos os campos floridos da USP, com a Torre do Relógio ao Centro. Vem em minha mente a música de Bob Dylan imortalizada por Jimi Hendrix: All Along the Watchtower (todos ao redor da Torre do Relógio). Uma música que inspira a insurreição, a sadia capacidade do inconformismo, enquanto o vento da mudança sopra em nossos cabelos.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Fim da exigência do diploma de Jornalismo: Avanço ou retrocesso ?


Leandro Altheman

Comemorada por uns e repudiada por outros, a decisão do STF em caráter definitivo põe fim a uma novela que já durava alguns anos, tendo de um lado Sindicatos de Jornalistas, Universidades e do outro as Empresas de Comunicação.

São inúmeros os argumentos pró e contra o diploma.

É fato que muitos profissionais, tidos como referência na área, jamais cursaram jornalismo e muitos são mesmo autodidatas.

No entanto, isto não é anormal para uma profissão ainda recente. Afinal de contas Hipócrates, o pai da Medicina, também não cursou Faculdade de Medicina.

Contudo, o argumento do Sr. Ministro Gilmar Mendes é o pior que se poderia esperar de um magistrado e demonstra sua total inépcia para ao assunto: segundo ele a exigência de diploma fere o direito constitucional á liberdade de expressão. Ora, é o mesmo que eu dizer que a exigência do diploma de médico, fere o direito à vida. Todos temos o direito á liberdade de expressão, mas (perguntar não ofende!) Você tem uma concessão?


Como profissional da área, reconheço que há colegas que exercem muito bem a profissão, melhor até do que muitos que estão formados. (Conheci um agricultor na foz do Tejo que fazia cirurgias, talvez, melhor do que alguns médicos formados - isto justificaria o fim da exigência do diploma?). É verdade também que o exercício diário da profissão exige muito mais conhecimentos técnicos do que conhecimentos específicos, no entanto, a passagem pela universidade tem por objetivo alimentar o senso crítico. Lidar com informação não é o mesmo que lidar com macarrão, Sr. Ministro, embora também este possa causar uma indigestão, a informação é quem determina o rumo das nações e sociedades.

Pesando os prós e os contras, na minha opinião, como profissional de imprensa, acho um retrocesso a decisão. Vai significar a fragilidade do profissional perante as empresas de comunicação. Saem fortalecidas as empresas de comunicação, que muitas vezes estão comprometidas com o interesse econômico do grande capital e não estão isentas de opinião.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

500 anos depois de Colombo, senadores brasileiros reinventam o mundo plano.


Leandro Altheman

O Sol, ah, o Sol. Ele chega despertando toda a vida. Na natureza, os passarinhos fazem festa à primeira luz da alvorada. Espetáculo da qual fui privado desde que o Acre adotou o mesmo fuso horário do Amazonas. Agora, com a proposta do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) de unificar todo país em um único fuso horário, este sonho parece estar ainda mais distante. Meu Deus, será que não há ninguém para dizer para estes senhores o óbvio? A Terra é redonda e o Brasil um país de dimensões continentais em que o Sol ilumina em diferentes momentos cada um de seus rincões! A verdade simples de que nosso relógio biológico está irremediavelmente ligado à luz solar!
As razões e argumentos são falíveis pois não enxergam esta obviedade. Deve ser por que o Sol ainda não nasceu em suas consciências adormecidas!
Querer adaptar o ser humano a uma jornada que começa de madrugada e termina antes do sol se pôr é querer fazer do homem um escravo das instituições que deveriam servi-lo.
Imaginem se os demais países continentais: Rússia, Canadá, China e EUA resolvem fazer o mesmo. “É meio-dia em Vladvostok, mas o sol ainda não nasceu” ou então: “Na Califórnia são dez horas da noite, e as pessoas aproveitam para se bronzear!”

Já não bastasse o “acriano” a que querem nos submeter, agora esta de fuso horário unificado. Já que é para padronizar tudo, deixo esta sugestão: adotemos então o fuso horário de Lisboa, ora pois!

Racismo e Liberalismo econômico: as mesmas raízes históricas

*

Leandro Altheman

Um documentário produzido pela BBC de Londres tratou de um assunto que a muito tempo perturba o mundo ocidental: as raízes “científicas” do racismo.

Infelizmente, o Nazismo acabou se tornando uma espécie de “bode expiatório” de toda culpa colonialista e eurocentrista. Como se a tese da “Raça Ariana” fosse um caso único, uma exceção à regra de uma civilização européia baseada na cordialidade e no humanismo. Nada mais falso. Retroagindo alguns anos no tempo, daquilo que foi a tragédia do nazismo, chegaremos à pseudo-ciência da “Eugenia” que por sua vez bebeu na fonte do chamado “Darwinismo Social”. A teoria é simples: se as forças da natureza são capazes de selecionar os mais aptos, a humanidade deveria atuar em conjunto com estas forças, por meio de uma seleção “cientifica” daqueles que segundo esta “ciência”, estariam mais aptos a construir o mundo do “futuro”. A idéia inspirou muita gente e antes que Adolph Hitler as pusesse em prática naquilo que foi o Holocausto Judeu, os colonialistas britânicos as aplicaram nas suas colônias na Índia, África e Oceania. A tese da superioridade, seja étnica, social, ou religiosa justificou ainda o massacre dos nativos norte-americanos. Na base desta “pseudo-ciência” podemos encontrar argumentos que nasceram da experiência colonial, a partir do século XVI, que determinou o massacre e a extinção de milhares de povos no mundo todo seja por guerra, fome ou doenças trazidas do velho mundo. (O que para mim, ascende a tese de que para estes povos o Apocalipse já aconteceu, mas isso é tema para outra discussão).

A mesma tese de que “os mais fortes devem sobreviver” aplicada à economia dá origem ao liberalismo econômico onde a “mão-invisível” faz com que tudo funcione em prol do bem comum. A célebre frase proferida pelo então presidente Fernando Collor de Melo: “quem não tem competência, não se estabelece” aplicada às empresas nacionais nada mais é do que a aplicação do darwinismo social à economia.

Mas voltemos à Índia do século XIX. O administrador imperial da colônia britânica não precisou construir “Campos de Concentração” como o fariam os nazistas cerca de um século mais tarde. Bastou simplesmente aplicar as leis do liberalismo econômico às milenares práticas da agricultura que o resultado esperado foi: de um lado os lucros exorbitantes da exportação e do outro uma população legada aos flagelos da fome.

No entanto, as teses do chamado “darwinismo social” não sobrevivem a uma análise mais acurada da própria natureza. São inúmeros os exemplos em que indivíduos teoricamente “mais fracos” adotam estratégias alternativas de sobrevivência e acabam obtendo sucesso na sua sobrevivência e reprodução. Do mesmo modo, sociedades tidas como “mais primitivas” têm adotado estratégias que não apenas garantem a sua sobrevivência como nos oferecem modelos alternativos de vida. Mais adaptados aos ambientes em que vivem, tais sociedades desafiam o poder do imperialismo e passam a influenciar o comportamento, as atitudes e os ideais de jovens urbanos de todo mundo.

Face a um mundo caótico perseguido pelos fantasmas da violência urbana, da escassez de alimentos e de sonhos e da devastação ambiental, a tese da superioridade seja econômica, racial ou religiosa, cai por terra, obrigando os cientistas políticos a reinventarem a sua própria lógica.


* Felizmente, a Internet têm contribuído para desmitificar o mau uso da Suástica pelos nazistas, reabilitando o seu sentido verdadeiro, sagrado e ancestral. Numa próxima postagem poderemos abordar a origem verdadeira deste símbolo e desmascarar velhos preconceitos.


terça-feira, 16 de junho de 2009

A Linguagem das Pedras


Por Moisés Diniz *

Subir os degraus seculares da cidade inca de Ollantaytambo foi uma experiência inominável. Acho que, sem querer, eu marquei uma audiência espiritual com os meus antepassados e sua longíngua caminhada entre as altas montanhas de Cusco, o umbigo do mundo, naqueles instantes de aproximação com o infinito.

O vento que atinge a pele da gente é como uma lâmina de sal e, ao mesmo tempo, um abraço de mãe, como se um espírito do bem acalentasse todas as nossas agonias, enquanto contemplamos as pedras e a sua inexplicável ausência de alma. Acho que as pedras de Ollantaytambo têm alma e o murmúrio do vento é bem mais que fenômeno físico, são os gemidos dos guerreiros incas e de suas mulheres amadas.

Eu conhecia as cabeceiras dos rios e a sua magia, mas, agora, eu conheço as pedras encantadas que guardam as minhas origens. Caminhar sobre as pedras milenares de uma cidade inca foi como ajoelhar-me sobre os túmulos de meus antigos avós, ouvir seus conselhos grafados no mármore que ergueu os templos para abençoar suas inteligentes plantações. Ao redor, como vizinhos de quarto, as imponentes montanhas.

Nos seus cumes frios e enluarados os amantes incas faziam as suas confissões e, quem sabe, num daqueles encontros a minha linhagem nasceu, como cordão umbilical de um povo que não se vergou aos espanhóis, sua fé bastarda e sua tirania.

Bastarda porque aquilo não foi coisa de Deus, foi uma monstruosidade contra povos que se erguiam contra a barbárie e se inclinavam para a civilização. Aquilo foi obra perdida do demônio do capital mercantilista e botaram a culpa em Deus.

Meus antepassados, os incas da mata bruta, os ashaninkas, encontraram na floresta a sua proteção. Não foram alcançados pela fé dos espanhóis, suas balas e sua vilania.

*Texto publicado originalmente no blog do deputado Moisés Diniz
** Moisés Diniz é Deputado Estadual do Acre pelo PCdoB. Natural do municipio de Tarauacá e ex-seminarista, tem se destacado como escritor das questões religiosas e faz uma defesa brilhante do direito ao uso ancestral da bebida ayahuasca.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Canção da Meia-Noite


"Há cerca de sessenta mil anos atrás, no início do Quarto Mundo que representa o Mundo da Separação (na visão nativa-americana), a polarização de todas as nações, credos e raças devastou os Filhos da Mãe Terra. No processo de socialização fomos educados para suspeitar dos outros e menosprezar outros costumes e atitudes devido à ameaça que eles representam para nosso próprio sistema de crenças (não importa de que raça sejamos ou culto nos dediquemos). Como uma Família Universal, há muito nos esquecemos de que este tipo de comportamento precisa ser modificado. Se nos esquecermos de orar pelo amor e pela paz nos corações de todas as raças, nações e credos, destruiremos a intenção pura de nossa orações e louvores."

Canção da Meia-Noite (Xamã Seneca do Clã do Lobo)

Extraído do site Lobos do Cerrado

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Livro de Moisés Diniz retrata os extremos do Fanatismo Religioso


Edvaldo Magalhães

Em 1998, uma violenta manifestação de fanatismo religioso provocou o assassinato de seis pessoas , inclusive duas crianças , e o espaçamento coletivo dos moradores de Lavras, uma típica comunidade do interior da floresta amazônica isolada nos confins do rio Tauari, município de Tarauacá ,no Estado do Acre.

O fato completamente ignorado pelo Brasil, embora tenha consternado a população do Acre, não se resistiu comparar o Massacre de Jonestown, na Guiana Inglesa , em 1978,quando um certo pastor Jim Jones induziu o maior suicídio coletivo da História.

Em O Santo de Deus , com escrita forte e profunda cultura bíblica, Moisés Diniz revela os caminhos que levaram ao Massacre de Lavras.Ele acompanhou o julgamento dos responsáveis na Comarca de Tarauacá e a tentativa de retomada de vida de sobreviventes do massacre , ali e em Rio Branco. O respeito pela proximidade que acabou tendo com os personagens levou Diniz a lhe trocar os nomes por apelidos bíblicos. Só isso. O mais é realidade por mais fantástica que se afirme.

Cada parágrafo de O Santo de Deus é um palmo de terra no rumo de Lavras , mas também da consciência entorpedecida pelo cotidiano bruto da vida moderna . O livro é um caminho de volta às origens do homem amazônico, mas também uma passarela entre a riqueza e a penúria da humanidade . Um varadouro entre a brutalidade e a ternura. Muitos atalhos para as milinares angústias humanas.

Extraído do Blog do Deputado Edvaldo Magalhães

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A Primeira Friagem do Ano

“Quando chega o mês de junho, bate um frio aqui no Norte. Eu ascendo uma fogueira, pro povo ficar mais forte” – Fogueiras de Junho - Haru Shinã e Nauá Teteya.


Equipe da TV Aldeia bem "agasalhada"


Leandro Altheman


Pois é, custou mas chegou: a primeira friagem do ano. Veio com toda força na segunda-feira (dia 1ºde junho), mudando a paisagem e os hábitos deste nosso Juruá.

Tiramos nossas capas do armário, passamos a tomar chocolate quente ao invés de açaí, e peixe cozido ao invés de frito. Dizem também que esta é a época em que os casais fazem as pazes. Afinal, dormir sozinho num frio destes, não é brincadeira.

Normalmente, as friagens começam por aqui em maio, às vezes ainda em abril. Este ano, que tem sido o mais chuvoso na memória dos antigos, demorou um pouco mais, o que nos leva a suspeitar do tal aquecimento global.

Agora é só esperar pelas fogueiras. Também pelo verão, estrada aberta, poeira, novenário, queimadas... Ufa ! lá para agosto, vamos estar torcendo para começar a chover de novo

Mas até lá, vamos curtir este friozinho, mensageiro de outras latitudes...

terça-feira, 2 de junho de 2009

A Hipocrisia de Domingo

Leandro Altheman


Todos os domingos podemos ligar na Rede Globo e assistir a uma boa reportagem,

sempre muito esclarecedora. Pena que oculte uma parte da verdade.


No último domingo tive o prazer de assistir no Fantástico, uma excelente reportagem sobre a questão da venda de meninas para a indústria do sexo.

Um excelente trabalho de jornalismo investigativo. Corajoso, firme, contundente.

No entanto, esconde a hipocrisia da maior emissora do Brasil.

Até pouco tempo, a Rede Globo protelava na justiça, a sua obrigação de adequar a sua programação ao horário do Acre. Alegando razões técnicas, a emissora se recusava a colocar suas novelas dentro do horário determinado pela justiça através da Vara da Infância e da Adolescência. E com isso, crianças em tenra idade podiam até bem pouco tempo, conhecer de pertos os mistério da reprodução e a diversidade sexual da Zona Sul do Rio de Janeiro.


Nada mais hipócrita portanto, do que pintar a exploração sexual de menores como “coisa de outro mundo” ou “crime hediondo” quando não se faz a própria lição de casa de adequar as novelas ao horário definido por lei.

Risco & Benefício


Leandro Altheman

Dizem que cachorro mordido de cobra tem medo de lingüiça. É verdade. Desde que cheguei a Cruzeiro do Sul, em 2000, tentei algumas vezes levantar o debate sobre quais seriam os impactos, não ambientais, mas sociais e econômicos da BR 364 na vida de Cruzeiro do Sul e região. Decidi parar de falar nisto para evitar um linchamento em praça pública. Ainda com a memória do embargo da obra, durante o governo Orleir Cameli, a população não estava disposta a falar sobre isto, e a BR continuava sendo vendida e comprada como a salvação da lavoura para o Juruá.
No entanto, a medida que a conclusão da BR vai ficando cada vez mais palpável e um embargo da obra, improvável, também parece que a sociedade juruaense vai tendo mais disposição em enxergar a BR com um olhar mais realista e a perceber que haverão sim, impactos na vida das pessoas.
Durante as eleições municipais do ano passado, chegou a se falar sobre o fato de que Cruzeiro do Sul haveria de se preparar para a chegada da BR. No entanto, em meio ao calor do debate eleitoral, esta discussão ficou esquecida.

Neste blog, trataremos eventualmente de alguns destes impactos. Não para jogar areia nos sonhos de ninguém, mas no sentido de antever problemas e pensar soluções.

Problema: Tráfego de Caminhões Pesados

Um dos pontos mais óbvios destes impactos é com relação ao tráfego da cidade. Basta dar uma olhada no centro de Cruzeiro do Sul no tempo do verão, para se ter uma noção do caos que será o trânsito de nossa cidade com a BR aberta. Vamos juntos caro leitor, fazer um breve exercício de imaginação. Imagine o centro de Cruzeiro do Sul com um tráfego diário de dezenas de carretas chegando com diferentes mercadorias. Terá lugar para todos eles? Agora imagine as ladeiras esburacadas e mal sinalizadas sendo percorridas por estas carretas de 8, 10 e 12 toneladas. Haverá perigo para pedestres e veículos?

Sugestão: Terminal de Cargas

Por esta razão talvez já seja hora de começarmos a pensar um terminal de carga e descarga em alguma área fora da cidade. Se pudermos desviar o tráfego pesado para um terminal, estaríamos evitando uma série de problemas, e facilitando a fiscalização por parte da Receita Estadual, Polícia Federal e Vigilância Sanitária. No entanto, um dos benefícios sociais, seria o fato de que a categoria dos freteiros não seria prejudicada, e poderiam trabalhar com a distribuição destas mercadorias em caminhões menores.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Alvorada

SERES DAS TREVAS enlaçam ao redor de si uma cortina de névoas, tudo para que não enxerguemos o óbvio: a de que a alvorada está próxima, e que mesmo na noite mais tenebrosa, o Sol nunca se põe de verdade.

O medo, a morte, assim como a vaidade que enfeita corações vazios são as máscaras da ilusão que eles usam para assustar, amedrontar e manterem um poder que é fruto da ficção de suas mentes, mas que se torna real na medida em que nele se crê.

Mas não são eles donos do Sol, ou da vida, e o pássaro canta sem lhes pedir permissão, é por isso, que tanto odeiam. Só podem odiar a esta natureza que não lhes presta o respeito que não tem. O arco-íris brilha na janela da imensidão, e a treva assustada corre para longe, pois sabe que diante do fogo da verdade, suas mentiras, são nada, são apenas brumas que se dissipam ante o Sol soberano da ALVORADA.