terça-feira, 14 de julho de 2009

O Demônio são os Outros


Leandro Altheman


O filósofo Jean Paul Sartre tinha uma fase que se tornou célebre: “O Inferno são os Outros”. Segundo ele, são os “outros” quem afinal, nos trazem a maior parte dos desgostos e dissabores na vida.

Apesar de discordar deste ponto de vista, por acreditar que também são os “outros” que muita às vezes nos trazem alegrias e momentos felicidade, concordo que em toda história da humanidade, pintar o “outro”, como o inimigo a ser erradicado, é a tônica do discurso.

Tornou-se lugar comum, ao longo da história o processo de “satanizar” aquilo que é diferente e muitas vezes incompreensível. Mesmo nas escrituras são fartos os exemplos em que divindades de outros povos são tratados como “coisa do demônio”. Aliás a própria palavra “demônio”foi deturpada ao longo do tempo. Inicialmente, em seu sentido original eram apenas “gênios” protetores de fontes, bosques e montanhas. As palavras daemon, dinn, demônio e gênio são cognatas. Nada tinha a ver com o conceito maniqueísta de “mal absoluto”. Um jeito simples e eficiente de manter o povo na linha, livre das perigosas influências estrangeiras.

Depois o mundo greco-romano tratou de pintar aquilo que estava fora de suas fronteiras como “bárbaro”. A palavra “bárbaro” inicialmente significa “aquele que fala uma língua irreconhecível ou simplesmente: “balbuciante””. Depois tornou-se sinônimo de violência, o oposto de civilização.

Os exemplos são tantos na história que seria tedioso aqui descrevê-los todos, mas o que mais impressiona é que o expediente de “satanizar” aquilo que é desconhecido e diferente, continua sendo utilizado com praticamente a mesma eficácia. Mesmo gente culta e estudada se rende ao apelo fácil do medo que pinta no diferente, o oposto a ser evitado, combatido, destruído.

O recurso, ainda que utilize preceitos da lógica, é muito mais um apelo emocional que encontra eco na caverna de nossos medos mais profundos, enraizados na escuridão deste desconhecido que cada um é para si mesmo.

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