sábado, 15 de agosto de 2009

O Chute na Santa (2)

A Arena Televisiva
Leandro Altheman

Esqueça esta história que você ouviu sobre democracia e meios de comunicação. Esqueça esta balela sobre a imparcialidade a qual se arvoram os senhores da imprensa. É tudo mentira. Ou melhor: é tudo mais um espetáculo para manter você e eu, ligados na TV acreditando se tratar da realidade.

Sendo assim, não é preciso tomar partido na briga entre a Globo de Roberto Marinho e a Record de Edir Macedo. Não se trata de uma luta entre o “bem e o mal’ como poderiam sugerir os filmes da sessão da tarde. Verdadeiramente nenhum presta. Nenhuma destas emissoras merece a sua atenção ou o seu respeito. Se quiser, divirta-se, como se divertiria um romano ao ver dois gladiadores lutando até a morte.

O dinheiro que deu origem à Rede Globo veio de um poderoso conglomerado dos EUAS da área de comunicação, o grupo Time-Life. O objetivo era claro e simples: em plena guerra fria eles precisavam de uma empresa que garantisse os ideais capitalistas e pró-EUA no Brasil. Conseguiram bem mais do que isso, emperraram os avanços políticos do nosso país por mais de 20 anos e por outro lado, uma pretensa “liberação dos costumes”, nos fazia acreditar estarmos indo na direção da “modernidade”.

Já o dinheiro que permitiu ao bispo Edir Macedo a compra da Rede Record é bastante óbvio que tenha vindo de sua igreja, e portando, direta ou indiretamente da doação de seus fiéis. Por outro lado, a vinda das chamadas igrejas neopentecostais para o Brasil coincide com o exato momento em que setores da Igreja Católica passaram a professar uma fé mais socialista que de costume. Favorecidos pelo regime militar, os telepastores vieram dos EUA e fizeram sucesso nestas latitudes, deixando discípulos como Edir Macedo.

Em outras palavras: é tudo a mesma bosta...

Um monte de dinheiro usado para encobrir a verdade e amortecer nossa capacidade de ver o mundo de maneira crítica. A medida que a população vai adquirindo mais consciência, mais sofisticados se tornam os meios de manipulação.

É difícil escolher. O que é pior: o “BBB nº tal”, ou “A Fazenda”. Tudo conspira a favor das meias verdade, a indução dos pensamentos, dos sentimentos, das respostas que damos ao mundo que nos cerca.

Mas, antes que me chamem de pessimista. Quero deixar claro uma coisa. Mesmo com todo o poder de manipulação da mídia, seu alcance ainda é limitado. Cito três exemplos: As Diretas Já, o Impeachment de Collor e a primeira Eleição de Lula. Em nenhum destes três casos o poder da mídia foi maior do que a mobilização popular. Engana-se quem pensa que a Globo ajudou o Impeachment, ou Lula. No caso das diretas já, a emissora deixou para a história o seu papel mesquinho de manipulador, ao noticiar a manifestação da praça da Sé como uma “festa dos estudantes”. No caso do Impeachment, a emissora tentou neglicenciar o acontecido, mas não teve jeito, o povo foi as ruas e Collor caiu. Bem, quanto a Lula, eles o derrubaram duas vezes, mas na terceira, ele já havia aprendido suficientemente as regras do jogo para não cair nas mesmas armadilhas (caiu em outras, depois).

Ou seja, por maior que seja o poder da mídia, ainda nos restam escolhas e mesmo este poder, escorre pelos dedos a medida que o acesso à Internet avança. Não é a toa que foi sugerido em Matrix, um universo por trás da aparente realidade. Não difere muito da Caverna de Platão, mas podemos sim, enxergar além das sombras animadas da telinha.

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