segunda-feira, 7 de junho de 2010

Crônica de uma balsa anunciada

Leandro Altheman
Não tenho pretensão de ser futurólogo, profeta ou qualquer coisa do gênero. Mas nem é preciso tanto para "prever" ou antever o naufrágio da campanha de José Serra. É um navio que já faz água no porto antes de zarpar. Previsível. Primeiro pelo fato de que o PSDB não conseguiu se afirmar como um partido popular, de massas (a não ser que seja o partido da "massa cheirosa", como disse Eliane Catanhede da Folha de S.Paulo). Além de não ter se tornado em um partido popular, o PSDB também não conseguiu se tornar um partido, por assim dizer "nacional". Continua sendo um partido puramente "paulista". Qualquer pessoa com um pouco mais de visão saberia que as chances de Aécio Neves levar a melhor contra a Dilma são maiores que a de Serra. Mas o partido não abriu este espaço para os "mineiros", talvez por que o discurso do PSDB mineiro seja "popular" demais. Aécio não quiz ser o co-piloto da balsa e já a abandonou. Serra continua com aquele discurso "paulista", que vai convencer somente o eleitor de SP, e olhe lá. Mas como este é o mundo em que ele vive, foi bastante iludido pelos aplausos de quem o cerca.
Seu discurso não tem unidade. Passa a impressão de que as "propostas", se é que existem, são vagas. É como se ele pregasse uma espécie de "continuísmo de oposição".Uma posição difícil. Nem tudo é culpa de sua própria incompetência. Acontece que de fato é difícil fazer oposição ao Lula no atual contexto. Por isso Serra resolveu agora fazer oposição à Evo Morales, na Bolívia.
Marina tem um discurso mais claro, calcado em uma proposta diferente. O eleitor pode não concordar ou não estar preparado para esta proposta, mas tem coerência, tem consistência. Diria ainda que, não fosse a desvantagem do minúsculo horário do PV na televisão, haveria mais chances de Marina ir para o segundo turno contra Dilma, do que o prório José Serra.
É claro que ainda é muito cedo para qualquer "previsão" mais ousada. Mas analisando as atuais tendências: Serra perdido no discurso, sem vice. Lula com a popularidae estratosférica, apoiando a Dilma... Parece claro para onde a balança vai fazer pender o eleitor. Enquanto o navio de José Serra vai fazendo água ainda no porto, e se convertendo em balsa antecipada, no horizonte de Dilma, vejo apenas duas nuvens negras.
A primeira é que ela ainda não foi provada no fogo do debate. Ela terá que provar ainda que não apenas é apenas um "boneco de ventríloco" de Lula, o que poderia pesar contra sua candidatura.
A outra nuvem do horizonte não é de ordem político-eleitoral, mas econômica. Seria a volta da inflação e o descontrole da economia. Ou pelo contrário, uma política de arroxo, extremamente impopular para conter a inflação. Somente isso poderia trazer ao eleitor a insatisfação necessária para "votar contra Lula".
Além destas duas nuvens negras no horizonte de Dilma, já posso antever a passagem da gloriosa balsa tucana, no mau-cheiroso rio Tietê.
Na primeira imagem: A Balsa da Medusa (Le Radeu de la Meduse). Pintura a óleo de Theodóre Géricault. Está exposta no Museu do Louvre, Paris. Terranáuas também é cultura!

Um comentário:

  1. Tinha até esquecido dessa zoeira da Balsa, tipicamente Acreana, até onde sei. Vamos esperar a balsa. Ah, Terra Náuas cultura é sim. Uma belíssima pintura, diga-se de passagem.

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