quarta-feira, 23 de junho de 2010

Produção

Leandro Altheman

A imagem de caminhões voltando para Rio Branco com a caçamba vazia, nunca se apagou de minha mente. Quer dizer então que aquela história da Farinha de Cruzeiro do Sul não é bem aquilo? Exatamente. Nos primeiros meses, os caminhões aqinda levam a farinha, mas no final do verão, os caminhoneiros disputam pneus velhos, carros e mudanças para custear a viagem de volta. Enquanto isso, a população comemora o baixo preço do tomate, mas com caçamba vazia de volta, o tomate vai ter que pagar o preço da passagem de ida e de volta.

A questão da produção é extremamente mal resolvida, em todo Acre, mas principalmente no Juruá. É por esta razão que a oposição bate e rebate nesta tecla há pelo menos 12 anos. Temos que reconhecer que é sim, uma questão mal resolvida.

Mas também não é fácil de ser resolvida. Não adianta a oposição querer vender facilidade de que é só "deixar produzir". Conversa fiada. Primeiro por que as leis ambientais são federais, segundo, que o problema da produção não é apenas este. Muito mais determinante é a questão do mercado agrícola. Nossa agricultura de susbsitência não é competitiva. Se ainda existe agricultura em nossa região, é graças ao tão difamado isolamento. ou alguém acredita que nosso saboroso "feijão de praia" consegue competir com o feijão carioca produzido com irrigação e mecanização agrícola no Paraná ou no Centro-Oeste? Este é só um exemplo, entre tantos outros.Depois que Cruzeiro do Sul estiver ligado definitivamente com o restante do Brasil, poucos produtos regionais ainda se manterão competitivos.

Bom, então é só mecanizar, certo? Errado. Uma coisa é mecanizar as terras planas do Centro-Oeste, outros são nossos solos que se compactam com extrema facilidade. Pode até parecer absurdo, mas por hora, a melhor coisa a fazer com as terras do Acre, é ... nada. Deixar as terras e a floresta em seu lugar, me parece a coisa mais inteligente a se fazer. Mas aí, surge uma lacuna. Então, do que vai viver o nosso povo. Me parece mais do que justo que paguem por este "pousio forçado" da terra. Na Europa os bancos já financiam o pousio da terra, pois sabem que isto significa manter uma reserva de nutriente e evitar que os preços despenquem. É o mesmo princípio pela qual se pagam os pescadores pelo período de defeso.

Mesmo a produção madereira manejada me parece complicada pela logística de se mandar esta madeira, beneficiada ou não, para fora, mas pode ser uma atividade que venha agregar junto a outras.

Além disso, o uso inteligente das terras já abertas para a agricultura e a pecuária poderiam ser utilizadas para produzir para o mercado interno. A piscicultura me parece a melhor alternativa, mas há também a hortifruticultura.

Tião Viana deu a senha para o que pode ser uma atividade ainda mais interessante: a produção de óleo de dendê. Nas terras já bertas pela pecuária, poeeria ser plantada esta palmeira africana que se adapta com extrema facilidade ao solo e clima amazônicos. Seu uso tanto na indústria alimentícia quanto na produção de biodiesel garatiriam mercado ao produto. leva uma vantagem sobre a cana por não precisar de constantes queimadas, é ambientalmente interresante pois sequestra carbono e poderia ter seu plantio financiado por este canal. A existência desta materia prima permitiria a instalações de indústrias leves e de baixo imapcto, como a de alimentos.

Mas, a história mostra também que sempre que o Brasil apostou no "plantation", mais cedo ou mais tarde quebrou a cara. os exemplos são fartos: cana-de-açucar, café, cacau, algodão, e a soja, que se cuide. Sujeito às variações dos preços internacionais, estes produtos, mais cedo ou mais tarde acabam deixando de ser a "galinha dos ovos de ouro" para se tornar um problema social e econômico. O mais sensato parece ser mesmo, a diversificação da produção e encontrar não "uma grande solução", mas dezenas de pequenas soluções.

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