sábado, 28 de agosto de 2010

¿Que país é esse?


Leandro Altheman

Ando agora sobre as elegantes ruas de Cuzco. A antiga capital Inca é bem iluminada e cosmopolita. Nas ruas ouve-se, além do español, ingles, francês, italiano, alemao, holandês, e por aí vai. O frio de dez graus me faz espirrar e sou advertido por duas jovens cuzqueñas; “tape a boca por favor, señor”. Que brasileiro esperaria receber licao de civilidade no Peru! Mas assim o é.

Mas quem tira conclusoes apressadas sobre o Peru apos rapidas passagens pela fronteira, comete um grave erro d ecalculo. As frontreiras sempre foram refugios para aventureiros e desajustados, que na maioria das vezes sao uma coisa só. Me incluo entre estes.

É certo que o Peru nao é a versao incaica, mistificada, que tao bem serve para atrair turistas. Tampouco é o pais que desejaria a sua minoria criolla (hispano-descendente): uma nacao européia nas Américas.

Estará a alma peruana nos quetchuas que ruminam a pobreza com dignidade nas montanhas? A eles parece nao importar a modernidade, pois parecem ter parado a roda do tempo naquelas alturas. Uma visao deseperadora para a minoria branca, desejosa de carros, motos e telefonia celular.
A televisao ignora 90% do país. Os protagonistas sao todos brancos ricos da capital Lima, e os “serranos” quando aparecem sao interpretados por artistas que em nada se parecem com os serranos que conheci na Serra.

Fica claro que no Peru, as desigualdades sao ainda mais gritantes do que no Brasil. Exportar é a palavra de ordem e a cornucopia tao bem representada em sua bandeira, derrama suas riquezas para fora: minerais, madeira, frutas, etc; mas para a maior parte da populacao, esta cornucopia jamais trouxe prosperidade alguma.

Leio os jornais e comeco, a tentar decifrar a politica peruana. Serao eleicoes regionais e as ruas sao inundadas por símbolos que incluem o condor, papagaios, a chacana, uma pá de pedreiro, e até uma batata. Mas nao é preciso muito para entender o que diz o jornal da capital, e o que esconde. Na capa, uma defesa intransigente do liberalismo. Para o autor, o estado deve intervir apenas para “salvar” o capitalismo, quando estiver em crise. Duras críticas ao chavismo e a Evo Morales, palavras laureando o sucesso da China “ex-comunista” e um total silencio sobre o Brasil. Como encaixar a atual politica brasileira nos rótulos obscurantistas dos liberais? Democrático, mas com forte presenca do estado na economia, um pais cuja política de distribuicao de renda gerou um mercado interno forte, o que o livrou da crise ainda amargada hoje pelo Peru de economia euro-dólar-dependenete. Admitir o sucesso do modelo brasileiro seria admitir o fracasso do liberalismo economico e pior, admitir que é possivel un novo caminho para a democracia na América latina, que nao o liberalismo estreito dos criollos e nem o chavismo que tanto os amedrenta. A política peruana parou na era Collor.
Mas aos poucos, os autores de um possivel recomeco, vao se articulando. Ainda terao de superar as historicas divisoes da esquerda, aqui representada principalmente por nacionalistas e socialistas. Mas há também os “etnocentristas” e “multiculturalistas”, diferentes visoes que partem de sua maioria indígena. Converso com um profesor Shipibo da Floresta. Os Shipibos, esta "nacao ayahuasqueira", terao candidato próprio para as proximas eleicoes presidenciais. É a primeira vez que ouco falar de sustentabilidade e distribuicao de renda no Peru. “Necesitamos fazer uma refundacao de nosso pais, com base nos valores tradicionais de nossos povos: o respeito a natureza e o compartilhar das riquezas.”

Respiro um pouco aliviado. Mesmo sabendo que há poucas chances de um shipibo ser presidente da República, o fato desta visao estar presente na politica, ja traz alguna esperanca de que um dia, esta cornucopia de riquezas incalculaveis que é o Peru, possa ser compartilhado de maneira digna, com todos os seus habitantes.

Um comentário:

  1. Parece muito remota essa possibilidade não é mesmo, Leandro ? Mas tudo ao seu tempo.Há vinte anos ,acreditar na eleição de um migrante nordestino,semi-analfabeto e que este, mesmo com todas as falhas,se tornaria o mais popular presidente do país e colocaria todos os intelectuóides tucanos no bolso em termo de conhecer o Brasil e seu povo, parecia um sonho não é mesmo ?Estamos já vivendo essa realidade.Logo,logo o Peru também chega lá...

    ResponderExcluir