quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fundação denuncia esquema golpista patrocinado pela CIA no Brasil




20/10/2010 13:10, Por Redação, do Rio de Janeiro, Brasília e Washington

Não bastasse o governador eleito do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, denunciar "uma campanha de golpismo político só semelhante aos eventos que ocorreram em 1964 para preparar as ofensivas"
contra o então governo estabelecido, o jornal da /Strategic Culture Foundation/ - a partir de sua seção norte-americana, especializada em geopolítica - publicou, nesta semana, reflexão na qual avalia o esforço dos setores mais conservadores dos EUA para denegrir as "imaturas" democracias da América Latina e do Caribe.

No artigo intitulado "/Elections in Brazil and the US Intelligence Community/" (/Eleições no Brasil e a comunidade de inteligência dos EUA/), assinado pelo analista Nil Nikandrov, a instituição lembra que "o Brasil nunca pediu permissão para afirmar o seu direito à soberania e à posição de independência na política internacional em causa ao longo dos oito anos da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, e era amplamente esperado que G. Bush acabaria por perder a paciência e tentar domar o líder brasileiro. Nada disso aconteceu, embora, evidentemente, porque os EUA se sentiram sobrecarregados demais com problemas com a Venezuela para ficar trancado em um conflito adicional na América Latina".

A Estrategic Cultural Foundation aborda a questão geopolítica mundial

Leia os principais trechos do artigo:

"Falando aos diplomatas e agentes de inteligência na Embaixada dos EUA no Brasil em março de 2010, a Secretária de Estado, Hillary Clinton
enfatizou: 'na administração Obama, estamos tentando aprofundar e alargar as nossas relações com um certo número de países estratégicos e o Brasil está no topo da lista. Este é um país que realmente importa. E é um país que está tentando muito duro para cumprir a sua promessa ao seu povo de um futuro melhor. E assim, juntos, os Estados Unidos e o Brasil tem que liderar o caminho para os povos deste hemisfério".

"Vale ressaltar que H. Clinton credita ao Brasil nada menos do que o direito de mostrar o caminho para outras nações, embora de mãos dadas com Washington. Para este último, o caminho é o de suprimir as iniciativas socialistas em todo o continente, de se abster de juntar projetos de integração regional a menos que sejam patrocinados pelos EUA, para se opor aos esforços dos populistas que visam formar um bloco latino-americano de defesa, e para impedir a crescente expansão econômica chinesa.

"Os EUA nomeou o ex-chefe do Departamento de Estado de Assuntos do Hemisfério Ocidental e um passaporte diplomático, com uma reputação dúbia Thomas A. Shannon como novo embaixador para o Brasil às vésperas das eleições no país. Ele se esforçou para convencer o presidente do Brasil para alinhar o país com os EUA e a adotar políticas internacionais menos independentes. Washington ofereceu vantagens ao Brasil como maior cooperação na produção de combustíveis renováveis, consentiram em que estabelece uma divisão da Boeing no país, e assinou uma série de acordos com as indústrias de defesa brasileira, incluindo a comissão de 200 aviões Tucano para a Força Aérea dos EUA.

"O presidente Lula não aceitou. Ele teimosamente manteve a parceria com a H. Chavez e Morales J. esteve em Havana e Teerã, condenou o golpe pró-EUA em Honduras, e até mesmo se comprometeu a desenvolver um setor nacional de energia nuclear. Ele propôs Dilma Rousseff - uma candidata séria, para esperar para orientar um curso da mesma forma independente - como seu sucessor. É alarmante para Washington, Dilma era membro do Partido Comunista e integrou a Vanguarda Armada Revolucionária - nomeadamente, com o pseudônimo de Joana d'Arc, na década de 1970. Ela foi traída por um agente do governo, depois presa, torturada sob os métodos que a CIA ensinou na Escola das Américas, e teve que passar três anos na cadeia. Por isso, mesmo décadas depois Rousseff não é a pessoa da qual se possa esperar que seja um grande fã dos EUA.

"A campanha de Dilma ganhou força gradualmente e as sondagens começaram a dar-lhe um lugar na corrida à frente do candidato de direita, José Serra. Jornalistas 'amigos-da-américa (do norte)' e agentes da CIA sondaram a sua disponibilidade para forjar um acordo secreto com Washington e então descobriu-se que o plano não teve chance porque Rousseff firmemente prometera fidelidade ao curso do presidente Lula. A CIA reagiu a tentativa de manchar Rousseff, e os meios de comunicação de imediato lançaram o mito sobre o seu extremismo. Encontraram informantes da polícia, que posaram como "testemunhas" de seu envolvimento em assaltos a bancos para os quais pretendia pegar o dinheiro para apoiar o terrorismo no Brasil. A mídia conservadora travara uma guerra de classificações e elogios em coro pró-EUA, José Serra como o incontestado favorito e Dilma - como um rival puramente nominal. Estabilizada a situação, no entanto, Dilma Rousseff finalmente emergiu como a líder da campanha, graças a um apoio pessoal do presidente Lula.

"Ainda assim, a pontuação de Rousseff caiu de 3% a 4%, tirando a chance de vencer ainda no primeiro turno das eleições. O resultado do segundo turno dependerá em grande parte os defensores de Marina da Silva Vaz de Lima, do Partido Verde, que ocupou o terceiro lugar nas eleições, com 19% dos votos. A guerra entre os militantes do PV está declarada e Shannon irá tentar de todos os meios para quebrar uma aliança entre Serra e Silva.

"O time de Dilma visivelmente perdeu o tom triunfalista inicial - o segundo turno é um jogo difícil, e o adversário de seu candidato está implicitamente apoiado por um império poderoso e cheio de recursos que é conhecido por ter impulsionado rotineiramente candidatos à esperança para a vitória. A mídia no Brasil - /O Globo/, as editoras /Abril/, como /Folha de S. Paulo/ e a revista /Veja/ - estão ocupados em lavagem lavagem cerebral do eleitorado do país.

"A equipe de Shannon está enfrentando a missão de ajudar 'novas forças'
menos propensas a desafiar Washington e ajudar a obter um controle sobre o poder no Brasil. A CIA emprega ex-policiais brasileiros demitidos de seus cargos por várias razões, para fazer o trabalho de campo como a vigilância, as invasões a apartamentos, roubos de dados de computador, e chantagem. Na maioria dos casos, estes são os indivíduos com tendências ultradireitistas que consideram Serra como seu candidato. Ministérios do Brasil, comunidades de inteligência e complexo militar-industrial estão fortemente infiltradas por agentes dos EUA. A embaixada dos EUA e do pessoal do consulado no Brasil inclui cerca de 40 dentre a CIA, DEA, FBI, agentes de inteligência e do exército, e têm planos para abrir dez novos consulados nas principais cidades do Brasil, como Manaus, na Amazônia.

"Embora o Departamento de Estado dos EUA esteja empenhado em reduzir o tamanho da representação diplomática no mundo, em um esforço para cortar despesas orçamentais, o Brasil continua sendo uma exceção à regra. O país tem um potencial para se estabelecer como uma força contrária na geopolítica para os EUA no Hemisfério Ocidental dentro dos próximos 15 a 20 anos e as administrações dos EUA - tanto republicanos quanto democratas - estão preocupados com a tarefa de impedi-la de assumir o papel".

Tradução: *CdB*

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Líder tucano desmente José Serra


O comentário de José Serra durante o último debate na rede Record de que iria promover o “desmatamento zero” na Amazônia provocou a reação de setores ligados à produção no vale do Juruá (Acre- Extremo Oeste da Amazônia Brasileira). “Se tivermos desmatamento zero, do que vamos sobreviver, o que vamos plantar”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, João Ferreira. “Logo se vê que um candidato destes só esta preocupado mesmo com São Paulo e Minas Gerais”.
Durante a campanha para governador, o candidato Tião Bocalon, do PSDB, bateu duramente contra a legislação ambiental e a atual política de governo de promover o desenvolvimento sustentável, a que os tucanos do Acre a qualificam de “proteger árvore, macaco e acabar com o ser humano”.
A declaração de José Serra pegou de surpresa os líderes do PSDB acreano que defendem uma maior flexibilização nas leis de proteção ao meio ambiente. A saída foi desmentir o candidato à presidência: “Essa é uma idéia das pessoas que não conhecem a Amazônia”, disse o presidente do diretório municipal do PSDB de Cruzeiro do Sul, Romário Tavares.
“José Serra sendo eleito quem vai comandar os órgãos ambientais do estado será Tião Bocalon ( PSDB) e seus aliados políticos”.”Então não há como cumprir esta promessa no Acre”, pergunta o entrevistador. “De maneira nenhuma!” responde taxativo Romário Tavares. “essa proposta é para que daqui a dez anos, não haja mais desmatamento, mas nós, do PSDB do Acre, somos contra esta proposta e não vamos abrir um milímetro para defender o ser humano ao invés do bicho, da árvore e do macaco. “, finaliza.

A lição política que vem do Amazonas




Leandro Altheman

Para quem está acostumado à velha dicotomia entre Frente Popular e a oposição no Acre (que um dia já se chamou MDA - Movimento Democrático Acreano), certamente se surpreende com a dinâmica totalmente diferente da política amazonense. Afinal é surpreendente ver PMDB, PMN e PCdoB marchando juntos para defender a candidatura de Dilma Roussef do PT. É mais surpreendente ainda saber que este grupo obteve mais sucesso na transferência de votos para Dilma, do que por exemplo, o PT acreano, que apesar de todas as glórias, é obrigado a amargar uma no mínimo estranha derrota para José Serra, enquanto até mesmo a acreana Marina Silva não consegue fazer milagre em casa e não passa do terceiro lugar. Começo a achar que é melhor decifrar esta esfinge antes que ela nos devore.

O primeiro fator que destaco é de ordem social. A existência da Zona Franca de Manaus cria uma classe de trabalhadores industriários capazes de erguer bem alto, mesmo na floresta, a temida foice do socialismo. Operários de fábrica são aguerridos por natureza, e não tão apegados a valores tradicionais, como normalmente o são os trabalhadores rurais. Infelizmente para nós acreanos, a falta de informação ainda faz da zona rural um terreno propício ao boato, à mentira e ao preconceito, o que acaba por determinar o rumo das eleições.

No Acre a economia na zona urbana é eminentemente formada pelo funcionalismo público o que cria uma intrigante dicotomia na política. Enquanto os funcionários públicos empregados pelo governo tendem a defendê-lo por razões pragmáticas (e não ideológicas), aqueles que não estão empregados, tendem a atacá-lo pelas mesmas razões, na esperança de que na mudança, consigam, quem sabe, uma “boquinha” no novo governo. Salvo raras e honrosas excessões, a lealdade acaba sendo para muitos, proporcional ao seu salário. Talvez por esta razão tenho encontrado em Cruzeiro do Sul tantos ex-petistas, que por perderem o seu DAS agora são "Serra desde criancinha".

Portanto a única saída para o Acre é “subverter” a atual ordem social promovendo mesmo a industrialização do Acre.

O outro fator é de ordem política mesmo. Eduardo Braga, Osmar Aziz e Vanessa Grazziotin caminham entre o povo. Nada de novo para políticos em tempo de campanha. Mas o fato é que a campanha deles já terminou. Converso com um ajudante de ordem, espécie de secretrário direto do governador Eduardo Braga. Ele me diz que as pessoas conseguem chegar facilmente até o governador e que o gabinete dispõe de um serviço que faz com que todas as cartas enviadas pelo público sejam respondidas. O secretário fala das obras e ações do governo. Nada de mais, afinal ele é pago para isso. Mas a diferença está no tom de seu entusiasmo. Alguém que realmente acredita naquilo que está fazendo. Mesmo que o político não consiga trazer soluções concretas de imediato para todos os problemas, o povo reconhece quando um político vive na pele estes problemas. É esta mesma filosofia que está fazendo crescer a popularidade do prefeito Wagner Sales em Cruzeiro do Sul. O povo gosta quando alguém sai de seu gabinete e suja os pés na mesma lama que seus filhos atravessam todos os dias para irem à escola. Mesmo que passem mais 4 anos na lama.

Outra coisa é que o velho discurso em que o candidato pede para votar em todos de um único grupo político, por que só assim, “o Acre vai pra frente”, não funciona mais. Como todo remédio em superdosagem se transforma em veneno, este discurso, repetido à exaustão começa a dar munição para que a oposição diga “com toda essa gente e ainda não deram jeito na BR, na produção, na saúde...”. Mas isso ainda não é o pior. Pior é o sentimento do povo que que está sendo coagido a votar sob pena de não ver as obras concluídas. O juruaense é sobretudo opinioso, prefere sair perdendo do que dar a mão a palmatória. Além disso o resultado pífio obtido no Acre pelo governo de maior popularidade de todos os tempos (me refiro ao Lula) parece também ser resultado deste discurso que pode levar a seguinte interpretação: “ eles só ajudam o Acre por causa do PT, não do povo”. Some a tudo isso aquele “lenga-lenga” da Companhia de Selva, que trata ao povo como uma cartilha de analfabetos e você explica por que está tão difícil de fazer a Dilma ganhar no Acre.

Depois de terminarem o jantar oferecido pelo empresariado local, o trio agora concede entrevistas, não sem antes dar a ordem aos Policiais Militares (do Acre) que faziam a escolta de que também se servissem do jantar.

Um gesto pequeno que pode até estar confundindo um neófito em política amazonense, mas qualquer gesto, por menor que seja, pode servir de indicativo para explicar a grande vitória do atual grupo político amazonense e aprovação recordista de Lula e Dilma, do lado de lá da linha Cunha Gomes.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Que Imparcialidade?


Leandro Altheman
Pelo menos duas pessoas já me criticaram por aquilo que classificam de "parcialidade". Bem, acredito que meu papel como jornalista seja esclarecer os fatos e se o JN ocupa 7 minutos para provar um ataque que não existiu, eu posso usar três para ridicularizar o fato.
Se a turma que trabalha para o Serra com listas de emails mentindo sobre o aborto, eu posso usar o espaço de que disponho, para esclarecer que aborto é questão de congresso e não de presidente.
Sou tão imparcial quando o Jornal Nacional.

Capa da Veja


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Serra causa tumulto em missa no Ceará


Padre que celebrava a missa, condenou os panfletos contra Dilma.

Escute aqui o áudio que a Globo não mostrou

Terminou em tumulto a visita do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, a uma missa na festa de São Francisco, em Canindé, interior do Ceará, na tarde deste sábado. A festa é o maior evento religioso da cidade.
Havia militantes com bandeiras do PT e de Serra. No final da missa, houve corre-corre e o tucano chegou a ser empurrado, mas não se feriu.
Os ânimos foram inflamados por declarações do frade que celebrou a missa, cujo nome não foi informado.
Ele reclamou da chegada de Serra quando a cerimônia já estava em andamento e declarou, na presença do tucano, que a igreja não autoriza a divulgação de panfletos associando a presidenciável petista Dilma Rousseff à defesa do aborto.
Quando chegou ao local da festa, Serra foi vaiado por cerca de cem militantes petistas que, segundo a Guarda Municipal, faziam um bandeiraço em frente à catedral.
Ao entrar na missa, em um galpão atrás da catedral, Serra e comitiva sentaram nas primeiras fileiras, provocando uma pequena confusão, o que irritou o frade.
"Gostaria que a missa não fosse tumultuada com os políticos que aqui chegaram, por favor", disse ele.
Durante a missa, o frade disse que não se referia a "A" ou a "B", mas àqueles que estavam conversando. "Se vieram com outra intenção, peço que saiam assim como entraram", disse. "Isso é uma profanação", afirmou.
Perto do fim da missa, o frade exibiu um panfleto que, segundo ele, atacava Dilma. "Acusam a candidata do PT em nome da igreja. Não é verdade", disse o frade.
A plateia aplaudiu. "Não está autorizada essa coisa. A igreja não está autorizando essas coisas", repetiu ele.
No final da missa começaram a chegar ao local militantes com bandeiras de Serra _e foi quando houve o tumulto com a militância petista. Serra não quis comentar as declarações do frade.
Seguranças da igreja não permitiram que a imprensa se aproximasse do religioso.

domingo, 17 de outubro de 2010

A psicologia de massa do fascismo à brasileira



Por


Luís Nasssif






Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.

O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.

Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.

Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Em defesa da tradição, da família e da propriedade do pré-sal


por Jorge Furtado em 13 de outubro de 2010


Mônica Serra, que muita gente só foi conhecer um dia desses, andou pelos subúrbios brasileiros fazendo a campanha do marido e dizendo a evangélicos que Dilma “mata criancinhas”. Quem noticiou o fato foi o jornal O Estado de S. Paulo (que abriu voto para José Serra). Índio da Costa, vice na chapa demo-tucana, foi o companheiro de Mônica em sua missão evangelizadora entre os pobres.

Indio da Costa, isto quem conta é o jornal O Dia, comprometeu-se com evangélicos a barrar a lei que proíbe discriminação contra homossexuais, o que nos leva a concluir que, no mínimo, o vice de Serra não vê problemas na discriminação contra homossexuais. Índio da Costa, que o Brasil também conheceu um dia desses e que ainda pode amanhecer presidente da república (como já aconteceu com vários vices), sugeriu, na tribuna do Congresso, a realização de um plebiscito sobre a pena da morte. O mais que sabemos de Índio é seu envolvimento em licitações não muito bem explicadas com fornecedores de merenda escolar (denuncia que virou CPI comandada por uma vereadora do PSBB carioca) e a notícia amplamente divulgada dele ter sido “o relator” do projeto ficha limpa, o que era mentira: o relator do projeto é o deputado petista José Eduardo Cardozo, da coordenação da campanha de Dilma.

Verônica Serra, a filha de José e Mônica, como informou exemplar reportagem de Leandro Fortes na revista Carta Capital, foi sócia de Verônica Dantas (sócia e irmã do banqueiro condenado por suborno de um policial federal e acusado de vários crimes em diferentes países, Daniel Dantas), numa empresa que violou o sigilo fiscal de milhões de brasileiros. (Para provar que a tal decidir.com entregava a mercadoria que vendia, a Folha publicou, em 2001, o cadastro de cheques sem fundo de alguns deputados). Apesar de trazer graves denúncias detalhadamente documentadas, a reportagem de capa da Carta Capital foi solenemente ignorada pela antiga imprensa e nunca desmentida por ninguém. Enquanto isso, a mais estapafúrdia ficção, como a do sujeito que achou “200 mil do tamiflu” na sua gaveta, ou a do receptador de conservante de presunto roubado que pleiteava 9 bilhões (é bilhões mesmo, com b) de financiamento no BNDES e não levou porque não pagou suborno, ganham quilômetros de manchetes e horas de acalorados debates.

David Zylbersztajn foi o primeiro diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), nomeado por FHC em 1998 e reconduzido ao cargo em janeiro de 2000. Em 1999, ele liderou a quebra do monopólio da Petrobras na exploração do petróleo no Brasil. “Sua separação da esposa Ana Beatriz Cardoso, filha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em maio de 2001, antecipou sua saída da chefia da ANP, embora seu mandato lhe garantisse a permanência no cargo até o final de 2005”. (da Wikipedia) Em 2002 fundou a empresa DZ Negócios com Energia, especializada em assessorar investidores interessados na indústria brasileira de petróleo. Agora, em 2010, ele defende, como declarou em nota assinada e publicada no blog de Josias de Souza, “a manutenção do sistema de concessões também para as futuras licitações, sejam elas no pré-sal, ou fora dele”, ou seja, o interesse dos seus clientes.

José Serra, perguntado por Dilma Rousseff no debate da Band sobre a questão do sistema de concessões do pré-sal, enrolou, como sempre faz, ensaiou acusações vagas, desfiou clichês decorados, sorriu e mudou de assunto, como lhe mandaram. Serra também enrolou e não respondeu nada sobre as declarações de sua esposa, nem sobre o sumiço dos 4 milhões de sua campanha, entregues a Paulo Souza, a quem Serra afirmou não conhecer: "Não sei quem é, nunca ouvi falar". Depois de ameaçado pelo próprio ("Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada, não cometam esse erro") e aparecer ao seu lado em várias fotos, Serra lembrou dele rapidinho, a ponto de defendê-lo.

Diz a Folha: “Serra diz que governo levou o tema aborto à campanha”. Ao Terra, Serra diz que quem trouxe o assunto para a campanha foi "o povo": "Não fomos nós que introduzimos o tema e sim o povo". Enquanto isso, sua campanha na televisão - que não é feita nem pelo governo nem pelo povo - abre com imagens de uma grávida alisando a barriga, um feto num exame de ultrassom, uma trilha melosa e uma locução que, em voz grave, começa afirmando: “Ter um filho não é uma escolha”. A apelação segue por imagens de bebezinhos recém-nascidos e termina dizendo que é preciso “escolher o bem, escolher a vida” e conclui: “E para escolher o melhor para o Brasil, é Serra presidente”. Já vi muitas baixarias nas campanhas eleitorais brasileiras mas, pelo menos desde que Collor acusou Lula de desejar um aborto, não vi nada tão rasteiro. Collor tinha, ao menos, a coragem de não terceirizar sua canalhice.

José Serra, hoje um assumido representante da mais tacanha e grotesca extrema-direita religiosa, incluindo a TFP e nazipastores de várias religiões, posa de crente enquanto sua turma faz contas de quanto poderia ganhar com o petróleo, que por enquanto é nosso. O pré-sal bem vale uma missa.

X

Programa de José Serra, onde ficamos sabendo tudo sobre ter um filho (“não é uma escolha”) e nada sobre o pré-sal:

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Boato de lesbianismo levou à agressividade de Dilma




Moacyr Lopes Jr./Folha

O tom agressivo empregado por Dilma Rousseff no debate presidencial da noite passada tem origem num boato.
O comitê de campanha da pupila de Lula foi informado acerca de um falso processo judicial que circula na internet.
Na peça, um suposto advogado aciona Dilma em nome de uma hipotética ex-doméstica da candidata.
A empregada fictícia sustenta no processo de fancaria ter mantido com Dilma um relacionamento amoroso de 15 anos. Cobra indenização.
Há três dias, o deputado eleito Gabriel Chalita (PSB-SP) tratou do tema em conversa com um petista ligado ao comando da campanha de Dilma.
Chalita contou que um religioso o havia procurado para dizer que recebera cópia de processo em que Dilma era acusada de lesbianismo.
O interlocutor pediu a Chalita que aconselhasse o bispo a checar o número de registro na OAB do advogado que assina o processo. “Não existe. É falso”, disse.
Em diálogos privados que antecederam o debate nos estúdios da TV Bandeirantes, Dilma e seus operadores atribuíram a aleivosia à campanha de José Serra.
Entre quatro paredes, a candidata petista se disse “indignada”. Para ela, o boato do processo tornou incontornável a inclusão da "baixaria" no rol de temas do debate.
Vem daí a decisão de Dilma de inquirir Serra, já na primeira pergunta, acerca da boataria que viceja no “submundo” virtual.
Como as suspeitas contra Serra não estão escoradas em provas, Dilma evitou mencionar o falso processo. Soou genérica:
“Acredito que uma candidatura à Presidência tem por objetivo engrandecer o Brasil, discutir valores e projetos para o futuro”, disse ela para Serra.
“Sua campanha procura me atingir por meio de calúnias, mentiras e difamações. [...] Seu vice, Índio da Costa, a única coisa que ele faz é criar e organizar grupos, até para me atingir com questões religiosas...”
“[...]...Você considera que essa forma de fazer campanha, que usa o submundo, é correta?”
Serra centrou sua resposta na polêmica sobre o aborto e no ‘Erenicegate’. Disse que Dilma confunde “verdades e reportagens com ataques”.
Um integrante do comitê petista contou ao repórter que, antes do início do debate, chegou aos ouvidos de Dilma outra “informação”.
Segundo ele, um panfleto apócrifo contendo ataques à candidata teria sido distribuído em templos evangélicos do Rio, neste domingo (10).
No folheto, Dilma é associada, de novo, à defesa do aborto. O texto a acusa de ser a favor da “matança de criancinhas”.
Foi por essa razão, informa o operador da campanha petista, que a candidata levou aos holofotes o nome da mulher do antagonista.
“Sua esposa, Mônica Serra, disse o seguinte: ‘A Dilma é a favor da morte de criancinhas’.”
Mônica teria dirigido o comentário a um eleitor, durante caminhada pelas ruas de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (RJ). Coisa do mês passado.
Serra esquivou-se de responder. Presente à platéia da TV Bandeirantes, Mônica não se deu por aludida. Disse que não sabe do que Dilma está falando.
Ouvido pelo blog, um membro da campanha tucana tachou de “alucinação” a alegada vinculação de Serra ao falso processo que retrata Dilma como lésbica.
Como se vê, a disputa eleitoral de 2010 caminha a passos largos para um lodaçal que não dignifica a atividade política.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Marina no segundo turno


Desde o início venho falando: O Acre é um estado de excessões e o que foi construído aqui com PT, PCdoB e PV, inexiste no restante no Brasil: o sócio-ambientalismo. O PT acreano não é o PT nacional e o PV acreano não é o PV nacional.

Daiene Cardoso / AGÊNCIA ESTADO e Flávia Tavares - O Estado de S.Paulo

Não foi intencional, mas Marina Silva se vestiu ontem de verde, vermelho e azul, cores que representam os três partidos com melhor desempenho no primeiro turno e que tentam se afinar para o segundo. A senadora tenta desde domingo conciliar o compromisso que sustentou com as alianças em torno de seu projeto e o anseio de setores de seu partido, o PV, por uma aliança mais pragmática.
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Apoio. Marina, sobre seu desempenho na eleições: ‘Não tenho direito de ficar frustrada’

Marina passou o dia definindo os dez pontos que apresentaria aos presidenciáveis que a cortejam como suas prioridades de discussão. Depois disso, falou ao Estado de sua surpresa de o aborto ter se tornado um tema tão predominante nesta semana. "No começo, houve uma avalanche de manifestações, criticando minha posição favorável à vida. Agora, estão tendo que se ver com um tema que foi usado para tentar me rotular de conservadora", disse.

Recorrendo a citações religiosas e de seus autores favoritos, Marina chorou ao afirmar que ainda há nela algo do PT. Embargou a voz também ao falar do presidente Lula. "Minha causa me levou a, ao menos temporariamente, me afastar de pessoas que me são muito preciosas." Mais dicas sobre o segundo turno não deu. Antes da despedida, lamentou o fato de Heloísa Helena (PSOL) não ter sido eleita senadora em Alagoas.

A senhora sempre defendeu o segundo turno, mas acabou favorecendo o tucano José Serra. A senhora se sente frustrada?

Nós favorecemos a democracia. Como diria o apóstolo Paulo, o amigo do noivo tem de se sentir tão feliz quanto o noivo. Eu estou feliz que o povo tenha oportunidade de olhar melhor os candidatos. Não tenho o direito de ficar frustrada, enfrentando as circunstâncias e as dificuldades que eu enfrentei, conseguindo 20 milhões de votos dos brasileiros com 1 minuto e 20 de televisão, com uma estrutura pequena, sem coligação, e as pesquisas não conseguindo alcançar meu desempenho.

Agora parece que todos descobriram o fenômeno Marina Silva. A senhora foi subestimada?

Se fui, não foi a primeira vez. Aconteceu em várias oportunidades. Quando entrei na universidade, um professor perguntou quem havia feito supletivo e alertou que esses alunos teriam muita dificuldade em sua matéria. Me preocupei, estudei, e na primeira prova tirei 9,5. Hoje, sinto uma mistura de alegria, humildade e gratidão, como senti na época.

Como a senhora avalia as campanhas até aqui?

Disse desde o começo que não deveríamos orientar a campanha pelo medo, já vencido pela esperança há 8 anos. Em todas as eleições, aparecem fantasmas querendo assombrar o bom desempenho do debate, da opinião. Eu preferi não rotular.

A discussão em torno do aborto é o fantasma da vez?

A imprensa manifestou um interesse grande nesse tema em relação a mim. E não é somente uma questão religiosa. É um tema complexo, que tem de ser tratado sem satanização de nenhum dos lados. Sempre me pronunciei contrária ao aborto. Me esforcei para fazer esse debate num nível adequado, não como nos Estados Unidos. Quero debater como preservar a vida em todos os sentidos, inclusive a das mulheres que são ameaçadas pelas práticas inadequadas do aborto, as sequelas físicas, emocionais. Precisamos discutir o mérito da questão.

Os candidatos estão discutindo esse mérito?

Não sei quem pautou essa questão agora. Quem pautou essa discussão? No meu caso, foi por que eu sou evangélica? Por que os candidatos católicos nunca foram tão cobrados? Havia algum interesse de que isso me causasse um incômodo? Respondi bem e nunca devolvi de maneira preconceituosa para quem pensava diferente de mim. No começo, houve um exagero ao contrário. É engraçado, lembra a música do Geraldo Vandré, em que ele diz "é a volta do cipó de arueira, no lombo de quem mandou dar".

Como assim?

Houve uma avalanche de manifestações na internet, criticando a minha posição favorável à vida, contrária à descriminalização da maconha. E o povo conseguiu atravessar isso com serenidade. Eu identificava essas queimações dos aliados dos dois lados. E agora eles estão tendo que se ver com um tema que foi usado para tentar me rotular de conservadora. Outros me disseram que talvez eu não fosse tão convertida assim. Vou tentar contribuir para que a discussão seja madura.

Os analistas e os críticos quebram a cabeça agora para entender o eleitor de Marina. Quem são os "marineiros"?

Os marineiros são uma esfinge. São uma esfinge para as visões pré-estabelecidas, para a dicotomia direita e esquerda. Eles estão dizendo: "Decifrem-nos ou vamos devorar essas velhas concepções." Esse movimento criou pelo menos o embrião de uma terceira via. Estávamos diante de um processo puramente plebiscitário e a democracia não sobrevive a isso. No plebiscito pode tudo, pode um candidato se apresentar sem programa de governo, o outro lado se apresenta com várias versões de programa e só legitimando as coisas boas, sem menção às negativas.

A senhora manteve sua aliança com o PT no Acre e alegou que foi por ter feito parte do projeto político no Estado. Vai manter a coerência com sua história, já que ajudou a construir o PT?

No Acre, minha história não é só de relações pessoais. É de um projeto político que integrou ao longo de 12 anos a sustentabilidade. Eu não saí do PT por causa do PT do Acre. Saí por causa do PT nacional, que não foi capaz de entender a sustentabilidade como um tema estratégico. O partido para mim não é um fim, é um meio.

A senhora já disse que Dilma e Serra eram iguais, "gerentões". Não seria contraditório apoiar agora um ou outro?

Eles têm um perfil gerencial incontestável. O segundo turno é uma possibilidade para compreender o sinal que a sociedade mandou, de que a questão da sustentabilidade é importante.

O que a senhora sente quando ouve agora Dilma e Serra se dizendo "ambientalistas desde criancinha"?

Espero que seja um esforço sincero. Não posso julgar se é sincero. Vou esperar o processo. O povo tem uma inteligência incrível, uma sensibilidade fina, as pessoas sabem o que é apenas declaratório.

O que pretende fazer com os eleitores que conquistou?

Pretendo estar junto com eles. Só isso. Cada um cumprindo seu papel. Neste momento, fui arco e flecha. Me dizem que eu tive os votos dos desiludidos. Prefiro acreditar que eu tive o voto dos que se reencataram com a política. É um amadurecimento, não existe essa coisa de um líder messiânico, é alguém que se coloca na perspectiva de fazer com as pessoas, não para elas.

Sua foto estará na urna em 2014?

Não podemos ficar pensando no lance lá na frente. É bom jogar as sementes na terra e esperar que elas brotem. Eu não sou a única, quero que haja uma terra fértil com muitas sementes nessa terceira via que começa a nascer.

Como foi ter pela primeira vez um palanque sem Lula a seu lado?

Dei uma entrevista a uma revista, em que disse que era a primeira vez em uma eleição presidencial que eu não votaria no Lula. É a história, é a vida, são os processos. Tem um livro chamado Filho Pródigo, de um padre polonês, e em um trecho ele diz: "Para onde me levou minha causa?" Minha causa me levou, ao menos temporariamente, a me afastar de pessoas que me são muito preciosas. Mas é o que acontece quando se tem uma causa ou quando a causa te tem.

Ainda existe algo de PT na senhora?

Quando saí do PT e me filiei ao PV, consegui uma metáfora, funciono por metáforas. Tinha carinho pelo PV por causa do Chico Mendes. Na manhã da filiação, chorei muito no hotel. Metade de mim estava alegre, metade, triste. Até que eu consegui a metáfora, que foi a frase do Guimarães Rosa, no conto Nenhum, Nenhuma: "Será que você, um dia quando a gente se separar, sem querer, sem saber, seria capaz de continuar gostando de mim, e gostando, e gostando? Como é que a gente sabe?". (chorando) E eu descobri que, mesmo depois dessa separação, sem querer, sem saber, eu ia continuar gostando e gostando. Fui para a convenção feliz. Feliz com o PV também. O PT vai continuar dentro de mim, como o PV sempre esteve dentro de mim.

Já conversou com o Guilherme Leal sobre como vai continuar a relação de vocês?

Agora estamos focados no segundo turno. Faço parte do instituto e vou continuar viajando junto com as pessoas que fazem parte desse projeto. Antes, eu percorria o País no mandato de senadora e no ministério. Agora, não tenho a estrutura de fazer isso institucionalmente, mas é a minha militância social.

O presidente Lula disputou três eleições e só foi eleito na quarta. A senhora se considera uma pessoa persistente?

Sou persistente em muitas frentes. Sou persistente para estudar, para militar na sociedade, para começar tudo de novo e para continuar na militância política-partidária institucional. E claro, organizar um pouco a minha vida e este ano espero que seja um ano de mais reflexão, estudo, descanso.

A senhora acha que no inconsciente dos eleitores está a ligação entre as trajetórias da senhora e do presidente Lula?

As pessoas olham para quem eu chamo de "liderar pelo exemplo". Cada vez mais a sociedade e a humanidade vai exigir um liderar pelo exemplo. Estamos saturados do excesso de fala, as pessoas estão olhando também suas atitudes.

A senhora tem mágoa do presidente Lula?

Não tenho mágoa de ninguém. Eu saí pela porta da frente e com a clareza de que estava dando uma contribuição à Amazônia. Quem tem mágoa não faz questão de colocar os 16 anos para citar esses dois homens (Lula e Fernando Henrique) como eu fiz.

Nasceu em Breu Velho, no Acre, em 1958. Foi alfabetizada apenas aos 16 anos. Graduada em História, ajudou a fundar o PT. Foi vereadora em Rio Branco (1988/1990), deputada estadual (1990/1994), senadora por dois mandatos (1995/2010). Em 2008, após cinco anos, deixou o Ministério do Meio Ambiente do governo Lula. No ano seguinte, filiou-se ao PV e este ano foi candidata à Presidência

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sem Papas na Língua


Sem poupar nem ao próprio PT, Ciro Gomes faz uma análise da campanha de Dilma no primeiro turno. Confira a entrevista.


Por: João Peres, Rede Brasil Atual

Brasília – Ciro Gomes está de volta à vida eleitoral? Difícil dizer. O deputado federal assegura que será um cabo eleitoral de Dilma Rousseff na disputa do segundo turno, mas evita entrar em detalhes.

Em se tratando do ex-ministro da Integração Nacional, a única certeza é de que surpresas não são exceção. Em entrevista à Rede Brasil Atual, Gomes garante que não guarda nenhum ressentimento de ter sido preterido pelo presidente Lula na disputa ao Planalto, mas admite ter sentido uma grande tristeza que, garante, já passou.

O deputado, que ficou uma temporada fora do país para curar as mágoas, esteve nesta segunda-feira (4) na reunião que reuniu parte importante da base aliada ao governo na discussão dos rumos da campanha do segundo turno. O ex-ministro mostrou que há uma característica sua que não muda: a língua afiada.

Confira a entrevista:

Qual será seu papel no segundo turno na campanha de Dilma?

Sou cabo eleitoral no Ceará.

E no resto do Brasil? O senhor é uma personalidade de projeção nacional.

Estou 100% à disposição para participar desse debate porque o Brasil está acima de tudo. Todo mundo sabe que fiquei muito triste por ver frustrada minha justa intenção de participar desse debate, mas para mim está tudo superado e o mais importante é ajudar o povo brasileiro a ver com serenidade qual o melhor caminho para o país. E estou seguro que o melhor caminho é a Dilma.

Dilma deixou muito marcado o tom de comparação entre os dois governos (FHC e Lula). E que agora é hora de enfatizar essa comparação. É esse o caminho?

Esse é um dos caminhos, mas é preciso também compreender porque 20% dos brasileiros, tudo gente boa, da melhor intenção, tudo gente progressista, trabalhadora, amada, porque não veio conosco no primeiro turno. Por que foi com a Marina? O que a Marina interpretou? Acho que uma certa frouxidão do PSDB acabou sendo replicada por certa frouxidão do PT, e tem uma parte de nós, brasileiros, que não gostamos dessa frouxidão.

Sei disso porque uma parte dessas pessoas já votou comigo em outras ocasiões. É classe média, estudante, jovens, gente preocupada com alguma intransigência. Não é de intolerância que estou falando, mas de intransigência em matéria de comportamento político.

Uma das questões que se tocou aqui é sobre quanto os boatos espalhados na reta final tiraram votos de Dilma. Esses boatos, ao serem disseminados por parte da imprensa, foram importantes nisso?

Perifericamente. Boato só prospera onde há perplexidades, vácuos, vazios. Como essa questão do aborto. É complexa, é delicada. Interagem com esse assunto questões religiosas, questões morais, éticas, sanitárias, emocionais, psicológicas. Questões terríveis.

E os políticos, por regra, detêm um oportunismo muito rasteiro a respeito deste assunto. Acho que esse é o vácuo. Quando você tem um vácuo e não tem clareza, o boato acaba prosperando mais do que devia.

E, claro, há o papel de uma parte da imprensa brasileira. E isso não é novidade, não temos que nos assustar com isso. Quem se enganou foi quem imaginou que haveria essa cordialidade que eu sempre soube que não haveria. Uma parte da imprensa brasileira tem preferência, o que é legítimo.

Apenas deveríamos ajudar o eleitor brasileiro a saber que a Veja é reacionária. É direito do povo brasileiro saber que a Veja é reacionária. A Veja deve existir, deve fazer o que bem entender. Se passar da conta, temos um sistema democrático que garante reparos no Judiciário, mas nada de ir contra a imprensa. A imprensa é sagrada para nós, democratas.

A Veja passou da conta no primeiro turno?

A Veja? A Veja passa da conta. Vive a serviço do que há de mais espúrio na sociedade brasileira. É isso que a gente deve explicar para as pessoas. Que a Veja tenha longa vida, mas que todos fiquem sabendo que a Veja não é uma observadora neutra da vida brasileira: ela está a serviço dos interesses internacionais, da privataria, da escória brasileira. Isso sempre foi. Desde que a turma de melhor nível saiu, virou isso (referindo-se a jornalistas mais antigos). Um instrumento de achaque.

Para a campanha de Dilma, como é melhor lidar com essa contra-informação?

Falar com o povo. Sincera e humildemente. Falar com o povo. Enfrentar. Isso sou eu que estou falando. Essa cordialidade só ajuda àquelas pessoas que têm as ferramentas clandestinas de mentir contra a vontade popular.

Resta algum ressentimento por ter sido preterido nessa disputa?

Não. Não tive ressentimento em momento algum. Tive muita tristeza, que é mais amargo do que ressentimento. Mas já passou. Postado por TERROR DO NORDESTE às
Do Blog O TERROR DO NORDESTE

Quem de fato exerce a censura em nosso país?


Enquanto Globo, Estadão, Folha e Veja "denunciam" a "volta da censura", este blog mostra que a censura na verdade nunca acabou, mas é exercida pelos proprios donos da imprensa, que não dão liberdade de expressão aos seus próprios profissionais. E continua na mídia a campanha de desinformação contra a proposta da FENAJ (e não do PT) de controle social sobre a mídia.

O texto em questão pode ser encontrado neste memso blog com o título "Voto Consciente" . segue abaixo o link sobre a demissão da jornalista pelo Estadão.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/guerra-santa-estadao-demite-maria-rita-kehl

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Juruá é o fiel da balança na eleição de Tião Viana



Leandro Altheman

O voto do vale do Juruá, tradicionalmente apontado como mais conservador, foi o fiel da balança que possibilitou a vitória de Tião Viana (PT) ainda no primeiro turno. O resultado merece uma análise aprofundada principalmente pela FPA, pois praticamente quitou do PT a liderança na capital Rio Branco, reduto mais forte do PT.

A votação expressiva obtida pelo cruzeirense Gladson Cameli (PP) para deputado federal é uma demonstração do peso do seu grupo político, que poderia ter feito a balança pender para outro lado. Ironicamente, um dos grandes articuladores da entrada do PP, na Frente Popular, Edvaldo Magalhães (PCdoB), não obteve a aprovação necessária nas urnas para o mandato de senador. Perdem o Juruá, que desde Aluísio Bezerra não tem um senador “nativo” e perde também o projeto de integração com o Peru via juruá -Ucayalli, que fica praticamente órfão. Decisões populares, que como o próprio Juruá, seguem caminhos sinuosos. Caminhos que devem respeitados, e apreciados por quem quer navegar na política.

Um outro prognóstico possível é de que deve aumentar a participação do vale do Juruá nas decisões do próximo governo. No campo adversário, a votação obtida por Antonia Sales (PMDB), mostra que o fator Juruá terá sempre que ser levado em conta na hora da contabilidade política. Em tese, Antonia Sales poderia ter sido a maior prejudicada pelo alto índice de abstenção da zona rural, mesmo assim, foi campeã de votos. Motivada pelas fortes chuvas, esta abstenção ficou na casa dos 34%, ou seja, mais de um terço dos eleitores da 4ª zona não votaram no dia 3 de outubro. Com isso perde também a representatividade do Juruá na ALEAC e mais ainda a zona rural, tão carente de representantes.

Na ALEAC o Juruá mantém ainda o nome de Maria Antonia (PP) e perde quatro nomes. Edvaldo Magalhães (candidato derrotado ao senado pelo PCdoB), Idalina Onofre (PPS), e Luís Gonzaga (PSDB), não obtiveram o sufrágio necessário.O deputado estadual Thaumaturgo Lima (PT), também do Juruá, deve obter uma vaga na Câmara Federal.