quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sâo Pedro e a chave do Céu


É parece que São Pedro tem mesmo a chave do céu. Pois nem Santo Antônio e nem São João conseguiram fazer a friagem chegar aqui. Mas com São Pedro, finalmente a friagem veio.

Graças à Deus!

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E para ser sincrético, A idéia de se fazer fogueiras neste período é muito mais antigo... é um costume ' pagão' de se comemorar o período de solstício que foi transformado em festa cristão. Mas fala a verdade é ou não é um barato se esquentar ao redor da fogueira?

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No Peru antigo, a chave do céu era representada por uma planta, a Wachuma. Um cactos do deserto utilizado tanto como medicina, quanto para entrar em contato com a divindade. Depois do cristianismo, a Wachuma passou a ser chamada de 'San Piedro'.

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Já na tradição afro-brasileira, o período que compreende a festa dos três santos Antonio, João e Pedro é comemorado como o 'Obá de Xangô'. Orixá da Lei e da Justiça.





* Na imagem, São Pedro, com frio se veste com roupas do altiplano andino

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Mensagem de Sirius para o Juruá




Foi assunto da semana a possível ocorrência de OVNIS no município do Guajará e para quem acompanha a blogosfera, sabe que o assunto começou aqui, no espaço virtual ocupado pelos internautas.



Mas a matéria de TV de certa foram coroou a pauta, dando 'credibilidade' ao assunto.



Só um tema destes mesmo para fazer o apresntador sair de sua cadeira, mas valeu a pena, creio.


Em Rio Branco, a possível ocorrência de OVNIS no Juruá virou piada. Andam dizendo na capital que trata-se na verdade do canhão de luz da boate Sirius que foi inaugurada no último sábado.




Mas as imagens apresentadas na TV sugerem outra hipótese.

Elaborei minha própria tese a respeito:



Para mim trata-se de uma nave espacial ultra avançada, movida a motor de rabeta, como sugerem as trêmulas imagens e o som de fundo. O piloto da nave provavelmente foi se encher a cara em algum banho lá do Guajará, cheio de periguete na garupa. E como estava 'lombrado', perdeu a rota e ficou dando volta lá no Guajará, talvez com medo do bafômetro. Pelo menos é o que sugere o balanço da espaçonave. Do jeito que o cara pilota, rapidamene ia se integrar à população local.



Longe de mim duvidar do sujeito que filmou. Acho que tudo é possível, mas não dá pra perder a piada.



Mas melhor ainda foi o Baianinho, do Ramal 3, falando da espaçonave e aproveitando o espaço gratuíto para fazer publicidade do terreno:



- Tô com medo. Se encontrar alguém que queira comprar o meu terreno, eu vendo...



Baianinho, baianinho, quem não te conhece que te compre...



O ex-candidato a vereador mostra o braço em frente às câmeras



-Tô todo arrupiado, olha só..


Liga não, deve ser coruba, Baianinho



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Foi a oportunidade esperada para toda sorte de teorias conspiratórias serem derramadas sobre o público. De que os governos escondem a existências dos aliens e de que eles já vivem entre nós e que a indústria petrolífera não quer que conheçamos a sua tecnologia. Tudo isso é possível. Mas alguém se lembrou de vistar o SIPAM?


Poderia ser um balão meteorológico, ou outro fenômeno. Ou talvez mesmo um Objeto Voador Não Identificado que teria obrigatoriamente de ter aparecido nos radares do SIPAM. Bem, se eles negassem informação, aí sim talvez justificasse a teoria conspiratória.



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Não sou tolo o suficiente para afirmar a existência de ETs, nem tolo o bastante para negá-la. Tive aulas de fundamentos de astronomia na faculdade. Uma forma que a USP encontrou de fazer com que os futuros jornalistas não falassem tanta bobagem a respeito de assuntos que desconhecem, ou pior, que conhecem, mas sob uma ótica viciada.



Nas aulas de astronomia tratamos de probabiliadades e a probabilidade de haver vida inteligente no Universo além da Terra, é muito alta.



Agora é preciso muito cuidado na hora de transformar isto em matéria, para não fazer o um programa jornalístico um circo de esquisitices.


Ou se for este o caminho, beleza, abraça-se então o bizarro com unhas e dentes, sem medo de ser feliz. Mas neste formato, não há uma esquisitice melhor do que outra.



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Pra que fogueira, São João ?



Agora na hipótese remota de termos sido realmente visitados por seres inteligentes de ouro planeta, só posso ver uma razão para isso: devem estar preocupados com aquecimento global que deixou esta noite de São João mais quente que o carnaval em Salvador.










quarta-feira, 22 de junho de 2011

Solstício de Inverno... e nada de friagem por aqui




Para quem não sabe, ontem, dia 21 de junho foi o chamado solstício de inverno no hemisfério sul. É o dia do ano em que os rais solares incidem em menor quantidade sobre a metade sul do globo terrestres, provocando a noite mais longa do ano nesta parte do planeta. Coisas que um "bom pagão" deve saber.


Por esta razão, o dia 21 de junho tende a ser também um dos dias mais frios do ano (sempre se falando de hemisfério sul).



A propósito, alguém sentiu frio ontem?



A partir do dia 22, começa novamente a crescer a inmcvidencia de raios solares e a temperatura tende a aumentar, sempre levando em consideração que os deslocamentos de massa de ar, frios ou quesntes não são nada exatos, mas esta é a tendência devido á posição do planeta em relação ao sol.



O que estou querendo dizer é que ontem acabou o "prazo" para uma friagem este ano,e a tendência é esquentar...




Cacete... esquentar mais do que já está?



Exatamente. Será que ninguém percebeu ainda ou estão achando 'normal' este clima?



Será que diante deste evidente aumento na temperatura dá para ser tão 'relativista' em relação à legislação ambiental? Não estamos mais falando de preservar macacos e araras, mas a própria vida no planeta, o que inclui as nossas.


No Congresso discute-se a mudança no Código Florestal Brasileiro, uma flexibilização das duras leis ambietais que penalizam o setor produtivo, especialmente na amazônia. Tudo isso é verdade. Mas o que se vai se produzir caso a temperatura continuar subindo?



Podemos estar diante de um futuro de incertezas, mas pelo menos uma coisa é certa: não vai faltar churrasquinho !

terça-feira, 21 de junho de 2011

Frágil Comunicação
























Papo sério...

Um colega de trabalho, tão desempregado quanto eu próprio, veio me reclamar da falta de autonomia nas decisões que emperra praticamente tudo aqui no Juruá. Drama sentido na pele pela equipe de jornalismo da TV Aldeia, há dois meses sem receber.

O resultado das últimas eleições trouxe para muitos a seguinte leitura: não vale a pena investir em um meio de comunicação caro e dispendioso como o sistema público de comunicação, se o seu impacto social é pequeno, em outras palavras: pouca audiência e quase nenhum dividendo político. Parece ser mais interessante investir diretamente nas empresas de comunicação já com audiência consagrada do que tentar disputar de igual para igual com elas, e perder.

Num primeiro momento faz sentido. Mas estive à frente de um importante meio de comunicação o tempo suficiente para saber que as coisas não são bem assim. Isto porque em parte audiência destes meios de comunicação se consagra por contemplar na sua pauta assuntos mais populares e uma abordagem popular. Isto faz com que a pauta diária se afaste naturalmente dos assuntos "de governo".
Ou seja, se não houver uma assessoria capaz de produzir material para alimentar as empresas de comunicação, as pautas "governamentais" acabam sendo preteridas por outras, talvez até de menor importância social, mas que sejam mais apelativas no que cerne à audiência. Não há nada de errado nisso, é a dinâmica de um meio de comunicação que depende de audiência para se manter. Mas o fato é que o problema permanece: a população deixa de conhecer o trabalho do governo e sua importância.
Testemunhei o fato de que a prefeitura de Cruzeiro do Sul, com menor estrutura, conseguia ter um alcance maior na divulgação de suas ações. Isto porque a sua assessoria produz material para os meios de comunicação locais, resolvendo parte do problema da falta de conteúdo dos jornais.

Nem de longe isso se trata de uma crítica pontual ou pessoal. É uma questão de redefinir os papéis do Sistema Público de Comunicação. Ou se parte definitivamente para um trabalho de assessoria de imprensa, sem medo de ser feliz ou se redefine o sistema como realmente público, o que não é sinônimo de estatal.

Hoje no Juruá não há uma coisa nem outra, e se o resultado político na última eleição foi insatisfatório, pode se esperar um fiasco ainda maior no próximo se a questão não for redimensionada.

Se o papel escolhido for o de uma assessoria, ótimo, é só colocar a estrutura para produzir em cima dos trabalhos das secretarias no Juruá. Caso a decisão seja realmente criar um sistema público de comunicação, então teremos que ... ouvir o público e não tentar fazer com que o público diga aquilo que o governo quer ouvir.

A coisa não funciona deste jeito e mesmo sendo ainda a maior parte da população do Juruá de baixa escolaridade (quadro que está mudando), a sensibilidade fala mais alto e o povo percebe que está havendo manipulação grosseira. Já quando a manipulação é pensada in loco, mesmo quando tosca, costuma funcionar...


Que me desculpem os bons profissionais da Companhia de Selva, mas a linguagem elaborada por eles nunca 'colou' por aqui. Talvez algo bem mais simples, sem tanta elaboração case muito melhor com o jeitão 'meio brega' da nossa gente.







Um outro aspecto é o impacto que o fechamento de um meio de comunicação teve sobre a categoria no que se refere a questão trabalhista. Uma categoria já fragilizada pela decisão do STF de abolir a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão se vê quase que impelida a buscar outros meios de vida, ou se submeter as condições aviltantes por vezes impostas pelas empresas que têm no jornalista 'um qualquer'. Só quem ganha com isso são os...













Com seus pensamentos cheio de incertezas e muitas vezes sem ser valorizado pelo seu trabalho, é assim muitas vezes que vai para rua um profissional para defender os interesses da população, sem a garantia que seus próprios direitos serão respeitados.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Governo do Estado regulariza terras no segundo distrito de Cruzeiro do Sul

Cerca de 500 famílias devem receber Título de Direito Real de Concessão de uso das terras estaduais

A abertura da ponte certamente mudou o cenário e a dinâmica de cidade de Cruzeiro do Sul, a partir da integração do seu segundo distrito. Mas para que esta obra também se traduza em cidadania para os moradores do entorno, estão previstas ações conjuntas de governo para o local.
A primeira destas ações é a regularização fundiária das mais de 500 famílias que vivem nas glebas Miritizal, Retumba e Crôa. A ação é promovida através do ITERACRE - Instituto de Terras do Acre, órgão responsável pelas terras estaduais, como as que estão situadas do outro lado do rio Juruá.
“A ação visa principalmente levar cidadania a estas pessoas”, explica Lindenberg Chaves, chefe da representação do ITEACRE no Juruá. “Algumas pessoas vivem no local há mais de 20 anos, com muitas dificuldades de se aposentar e sem direto por exemplo, à credito bancário.”
O Laudo de Identificação Fundiária (LIF) começou a cerca de um mês e deve continuar até que todas as moradias sejam cadastradas.
O Vice-Governador César Messias também já anunciou a próxima ação de governo para o Miritizal que será a pavimentação e o saneamento básico do bairro através do DEPASA que já iniciou o processo de levantamento topográfico do Miritizal.
(Leandro Altheman)

Trânsito de Cruzeiro do Sul: Quanto mais mexe, mais fede



E põe semáforo, e pinta faixa, e faz rotatória e tira rotatória, e o trânsito de Cruzeiro do sul só piora a cada dia.

Não adianta querer fazer mágica. Muito se resolveria se os condutores tivessem um pouquinho mais de educação e prudência. Mas isso parece ser pedir demais.

A frota de veículos só tende a aumentar e o centro da cidade, obviamente, não comporta a quantidade de veículos. Pode escrever: vai piorar e muito, até porque a cidade parece um sapo hipnotizado por uma cobra com a abertura da BR, mas não está enxergando que virão caminhões pesados e não terão aonde estacionar. Não há regulamentação de carga e descarga, nossas ladeiras são ingremes demais e falta visibilidade nos cruzamentos. Junte tudo isso ao pior motorista da galáxia e teremos um cenário de pesadelo no trânsito de Cruzeiro do Sul.

Chega a ser engraçado ver os caminhões "de fora" neste período de verão, se perdendo nas ruas que não chegam a lugar algum. Isto porque o normal seriam que houvessem quadras, quarteirões que poderiam ser circundados pelos veículos. Mas aqui, muitas ruas não terminam. É apenas um asfalto jogado para conseguir votos em tempo de eleição. Não tem sequer escoamento de águas pluviais, o que significa que é obra para durar no máximo, 4 anos. Tempo exato para a próxima eleição.

Um dia desses, no João Alves, um caminhão de entrega de móveis entrou numa rua e não conseguiu sair. Precisou ser guinchado por uma pá mecânica para voltar.

A empresa que presta serviço à Eletroacre atendeu em um só dia, cerca de 20 ocorrências de fios elétricos arrebetados pro caminhões. Para os moradores afetados, a imperícia é dos caminhoneiros. "Eu venho do Paraná, faço entrega em tudo que é cidade de Goiás, Mato Grosso, Rondônia... Meu caminhão é padronizado pelo INMETRO para não derrubar fios". Então quem é que está errrado?

Não adinata querer respolver os probelams "no varejo". O que falta à Cruzeiro do Sul é um planejamento para redimensionar a cidade de acordo com os novos desafios.

Caso não haja este planejamento, o que o cruzeirense pode esperar é uma cidade cada vez mais desumanada, caótica e brutal, onde crianças e idosos terão de ficar em casa para não correr o risco de atropelamento, onde as ladeiras e cruzeamentos serão testemunhas de muitos acidentes, alguns fatais.

Se a cidade não for pensada, redimensionada, descentralizada e organizada, vai ter muita gente com saudade do tempo em que a estrada abria só três meses por ano.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Cadê a 'minha' friagem?




Bem, hoje, é 13 de junho, dia de Santo Antônio, e também, segundo os mais antigos, data que coincide com época de friagem. No entanto, quem caminha no centro de Cruzeiro do Sul hoje, deve ter notado quão forte e insuportável está a temperatura.



Para quem acompanha o noticiário meteorológico, perceberá que as massas de ar frio não estão tendo 'força' suficiente para chegar até a latitude do Juruá. No sul, a temperatura está dentro da normalidade para esta época do ano, mas a friagem simplesmnte não conseguiu até agora alcançar esata região, devido à intensidade da masssas de ar quente que está sobre a região.



Se isso implicar em mais queimadas, teremos um ciclo interminável de menos chuvas, mais calor, e mais queimadas, até resultar na desertificação ou savanização da amazônia.



O fato é que o aquecimento global já é uma realidade que não deixa dúvidas. Pode-se até discutir qual é o papel do homem neste processo, uma vez que a Terra passa por mudanças climáticas muito antes do primeiro 'antropo' ficar de pé, mas que o 'negócio' tá esquentando, isso tá.



Enquanto se discute a mudança no código florestal, com a bancada ruralista querendo ampliar cada vez mais as áreas desmatadas, se esquece que mudanças climáticas podem comprometer totalmente a produção, seja lá do que for.



Por ocasião da decisão do MPF/MPE de multar criadores e frigoríficos, a reação popular foi um espetáculo à parte, com gente defendendo direito ao prosaico 'churrasquinho'.



Agora com um sol de rachar às vésperas do solstício de inverno, período em que o sol fica mais 'distante' do hemisfério sul, fico imaginando um mundo onde não vai faltar 'churrasquinho', mas ninguém poderia sair à rua de dia, devido ao calor humanamente insuportável que estará fazendo no asfalto.

sábado, 11 de junho de 2011

Imagem do Dia


Não se trata de erro ortográfico. Foi escrito como se pronuncia na região.






























sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cruzeiro do Sul 'mostra a bunda'

Com a abertura da ponte, alguns contrastes que já eram evidentes para os olhares mais aguçados, tornaram-se visíveis agora a todos. O mais óbvio, é de que a obra da ponte que oferece uma arquitetura e confere uma ar de modernidade à anatomia urbana de Cruzeiro do Sul, tem no seu "Lado B"(de bunda), a feiúra da porta de entrada da cidade.

E não estou falando somente das casas da Lagoa, não.




"Sempre só falam mal dos pobres, mas quem está mais sujando e poluindo essa parte da cidade é a classe empresarial", disse o líder comunitário Chaguinha da Lagoa.



Falar mal das casas mal enjambradas da lagoa, é chover no molhado e qualquer apresentador de TV a serviço do patronato enche a boca para dizer.
Agora quero ouvir dizer que quem construiu a cidade literalmente "de bunda" para o Juruá, foi a classe empresarial. Nada contra aqueles que produzem "emprego e renda", como diz o bordão tradicional, mas o poder público e a sociedade deveriam cobrar um pouquinho mais de quem pode mais.

A imagem do Boulervard Thaumaturgo, jogando todo o esgoto na frente da cidade, é tão despudorada quando a do menino do Miritizal que no dia da abertura da ponte arriou seu shorts rasgado e posicionou a sua bunda em uma das aberturas da ponte. "Vou inaugurar a ponte", disse o menino. Mirando o Juruá com o "olho que nada vê" ele despejou o conteúdo imundo de suas tripas que por sorte não acertou nenhum catraia que navegava em baixo.

Nosso Juruá não tem a mesma sorte e o rio que possibilita a vida nesta região, seja humana, animal ou vegetal recebe diariamente a ingratidão de seus habitantes mais ilustres.

Além do esgoto, o lixo é jogado sem nenhum constrangimento, todos os dias, nas suas margens.

Na verdade, a abertura da ponte sobre o Juruá será apenas a primeira, de muitas outras obras implantadas em aço, cimento e asfalto que ao invés de 'modernizarem' nossa cidade vão apenas evidenciar o distanciamento que existe entre a realidade de poucos e a da maioria.



Não, não sou um estraga prazer, apenas estou fora da ufania em torno da ponte e da BR. São obras importantes, sim, mas é preciso ter pé no chão para evitar que o sonho se transforme em pesadelo. É preciso antes de tudo, que a sociedade seja capaz de apontar o rumo que deseja para sua cidade, para seu povo, para sua juventude.

Legenda: Ao lado da recém-aberta ponte do Juruá, os urubus são os vigilantes que indicam a presença da morte. Os urubus aceitaram posar para a foto desde que seu cache fosse doado para instituições de caridade.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

"Eu me demito ! " - Porque saí da Rádio e TV Juruá



Para os menos informados, quero dizer que pedi demissão da função de Coordenador de Jornalismo da Rádio e TV Juruá e por isso meus poucos, mas adoráveis fãs, não vão ver mais este rostinho bonito (?) na telinha, pelo menos por enquanto.

Relutei muito em fazer uma postagem sobre o assunto, uma vez que poderia parecer que estaria expondo o meio de comunicação em que trabalhava. No entanto, decidi que meu público tem o direito de saber porque não estou mais a frente do maior meio de comunicação do Juruá e para este fim, utilizar o humilde espaço deste blog para isso, não me parece assim, algo tão recriminável.

Então vamos lá.

Em primeiro lugar, antes de quaisquer explicações quero deixar claro que a apesar das divergencias de pensamento, meu maior sentimento que fica é o de gratidão. Comandar o maior meio de comunicação do vale do Juruá, ainda que por um curto período, é uma experiência que não tem preço. E agradeço a esta oportunidade ao dono da emissora, James Cameli a quem, sempre considerei e considero, um amigo.

E é justamente por considerá-lo um amigo, que me sinto totalmente a vontade de discordar das posições tomadas à frente da empresa, que culminaram com minha demissão voluntária.

Creio ser mais honesto o livre e respeitoso discordar do que a falsa suberserviência que apenas aguarda o momento oportuno para cravar as presas peçonhentas na vulnerável jugular.
As razões que levaram a esta decisão tiverma início a partir da contratação de um recém-formado Engenheiro de Produção para o cargo de direção da empresa. Nada pessoal.

Houve uma promessa por parte de James Cameli de que o novo administrador não faria ingerências no jornalismo. Promessa que foi por incontáveis vezes, descumprida. O novato, em parte encantado pela comunicação e outra com o próprio poder que o cargo trazia, começou a dar 'pitaco' em tudo: desde conteúdo do jornal até o enquandramento das câmeras.

Por fim, resolveu reiventar a roda e propôs, em uma reunião que cumprissemos uma escala de trabalho. Ora, isso era exatamente o que já vinhamos fazendo há mais de anos. Apresentou a idéia como grande 'novidade' como se tivesse sido iluminado pelo espírito do saber.

Após a sua 'epifania luminosa' tentou impor que nossas três reporteres acumulassem novas funções, sem a devida remuneração. A repórter Jaqueline Teles (prêmio estadual de jornalismo em 2009), disse cabalmente que recusava-se a cumprir nova função, ampliando sua carga horária, a menos que isso implicasse em acréscimo no salário. Foi esta posição, em conformidade com o que estabelece o sindicato da categoria, que lhe custou a alcunha de "preguiçosa", pecha que foi também direcionada à outra colega de trabalho, Dayana Maia.
Jaqueline cabou sendo demitida por recusar-se a acumular funções sem a devida remuneração.

Assim, a RTV Juruá livrou-se questionadora Jaqueline Teles e o público ficou sem questionadora Jaqueline Teles. Ou seja, o que a empresa considera como defeito, é na verdade a maior qualidade de um jornalista.




Não podia admitir também o que foi dito de Dayana Maia. Nos momentos mais difíceis de saúde ou de desgaste mental, foi ela quem me socorreu. Sem que nunca fosse necessário pedir, Dayana sempre ocupou a minha função nos momentos de maior cansaço, enfrentando como uma verdadeira Valquíria, o Sol e Chuva inclementes do Juruá.


Seguindo a mesma lógica da linha de produção de uma fábrica de salsichas, o novo diretor enviou relatório em planilha, apontando apenas uma repórter como 'produtiva'. Ocorre que em sua avaliação, três 'stand-ups' (VT que demoram menos de 5 minutos cada um), valem mais do que uma matéria bem produzida, bem pensada.


Assim permanece a velha política do 'encher lingüiça', onde o âncora, pela falta de conteúdo do jornal se vê obrigado a entreter o público com um 'show man', comentando e dando opiniões até sobre aquilo que desconhece. Ninguém é obrigado a saber tudo, mas como gerar conteúdo crítico, se os repórteres são cobrados em quantidade e não em qualidade de produção?


A opinião que deixei explicita na minha carta de demissão é de que jamais houve 'preguiça' na minha equipe mas que sempre tive que lutar contra o 'monstro da desmotivação', simplesmente pelo fato de que o trabalho destes profissionais nunca foi reconhecido e que a epresa dobrou o seu faturamente, sem compartilhar o fruto deste sucesso com aqueles que sempre carregaram a empresa nas costas.

Não é momento de falsa modéstia, sou formado em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP, considerada a melhor escola da América Latina nesta área e uma das melhores do mundo. Se a opinião profissional de um engenheiro recém formado e recém chegado na área vale mais do que um jornalista formado na melhor escola deste país, com 15 anos de profissão, não há realmente motivos para permanecer no cargo.

A gota d'água veio quando fui solicitado a selecionar currículos e treinar estagiários como forma de pressionar minha equipe a cumprir tarefas além de suas atribuições. Não aceitei e por isso pedi minha demissão.

Com isso fica claro que a política da empresa é formar um staff de estagiários obedientes pela metade do preço.

Não há interesse da empresa em zelar por uma informação de qualidade para o público.
Sempre afirmei e afirmo que faço jornalismo para o público e não para o patrão.


Gostaria de poder mudar esta realidade, não para manter o polpudo salário que a empresa me pagava, mas pelo respeito e compromisso que tenho com o meu público e com as tranformações sociais que virão a reboque do crescimento econômico do Juruá.


Mas, a empresa fez suas escolhas e eu faço as minhas, se não posso mudar esta mentalidade, fico feliz e já me sinto em parte vitorioso por não participar dela.
Considero que é importante a lealdade à linha editorial da empresa, mas definido isto a notícia deve ter como foco o telespectador, ouvinte e leitor, e não o dono da empresa ou os anunciantes. Esse é o Jornalismo que eu aprendi da Escola e este é o Jornalismo que faço todos os dias.



É com este mesmo respeito que me despeço do público da RTV Juruá.