sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cruzeiro do Sul 'mostra a bunda'

Com a abertura da ponte, alguns contrastes que já eram evidentes para os olhares mais aguçados, tornaram-se visíveis agora a todos. O mais óbvio, é de que a obra da ponte que oferece uma arquitetura e confere uma ar de modernidade à anatomia urbana de Cruzeiro do Sul, tem no seu "Lado B"(de bunda), a feiúra da porta de entrada da cidade.

E não estou falando somente das casas da Lagoa, não.




"Sempre só falam mal dos pobres, mas quem está mais sujando e poluindo essa parte da cidade é a classe empresarial", disse o líder comunitário Chaguinha da Lagoa.



Falar mal das casas mal enjambradas da lagoa, é chover no molhado e qualquer apresentador de TV a serviço do patronato enche a boca para dizer.
Agora quero ouvir dizer que quem construiu a cidade literalmente "de bunda" para o Juruá, foi a classe empresarial. Nada contra aqueles que produzem "emprego e renda", como diz o bordão tradicional, mas o poder público e a sociedade deveriam cobrar um pouquinho mais de quem pode mais.

A imagem do Boulervard Thaumaturgo, jogando todo o esgoto na frente da cidade, é tão despudorada quando a do menino do Miritizal que no dia da abertura da ponte arriou seu shorts rasgado e posicionou a sua bunda em uma das aberturas da ponte. "Vou inaugurar a ponte", disse o menino. Mirando o Juruá com o "olho que nada vê" ele despejou o conteúdo imundo de suas tripas que por sorte não acertou nenhum catraia que navegava em baixo.

Nosso Juruá não tem a mesma sorte e o rio que possibilita a vida nesta região, seja humana, animal ou vegetal recebe diariamente a ingratidão de seus habitantes mais ilustres.

Além do esgoto, o lixo é jogado sem nenhum constrangimento, todos os dias, nas suas margens.

Na verdade, a abertura da ponte sobre o Juruá será apenas a primeira, de muitas outras obras implantadas em aço, cimento e asfalto que ao invés de 'modernizarem' nossa cidade vão apenas evidenciar o distanciamento que existe entre a realidade de poucos e a da maioria.



Não, não sou um estraga prazer, apenas estou fora da ufania em torno da ponte e da BR. São obras importantes, sim, mas é preciso ter pé no chão para evitar que o sonho se transforme em pesadelo. É preciso antes de tudo, que a sociedade seja capaz de apontar o rumo que deseja para sua cidade, para seu povo, para sua juventude.

Legenda: Ao lado da recém-aberta ponte do Juruá, os urubus são os vigilantes que indicam a presença da morte. Os urubus aceitaram posar para a foto desde que seu cache fosse doado para instituições de caridade.

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