terça-feira, 9 de agosto de 2011

Bolívia em São Paulo






Nasci no Brás. O bairro é citado em alguns sambas de Adoniran Barbosa (O Arnesto nos convidô, prum samba ele mora no Brás...). Foi na época de meus avós, um bairro pobre que recebeu principalmente imigrantes italianos e espanhóis. Meu avô, que veio ainda criança da Espanha contava que o pai dele, meu bisavô, um espanhol de Zaragoza, catava caixas de madeira para fazer móveis improvisados que eram vendidos a preço de custo.



Depois o mesmo bairro passou a receber a migração nordestina e até hoje podem-se ver inúmeras "Casas do Norte" como são chamadas as lojas especializadas em vendas de artigos raros por aqui, como farinha de mandioca artesanal, carne seca, geléia de mocotó, etc... Tudo para matar a saudade dos nordestinos que fizeram de SP, seu novo lar.


Mais tarde vieram levas de coreanos que estabeleceram-se principalmente no ramo de confecções, atividade com a qual muitas familias se tornaram prósperas.



A leva mais recente de migrantes que SP tem recebido são os bolivianos, muitos dos quais se instalam no bairro onde nasci, o Brás. Não deixa de ser curioso observar nossos vizinhos andinos formarem verdadeiras colônias na Megalópole.



Segundo alguns estudiosos, os bolivianos começaram a vir em grande número para SP desde 1980, a partir da crise econômica que reduziu as já escassas possibilidades de emprego naquele país. A maior parte são empregados da indústria de costura e muitos que chegaram aqui como empregados, ou sub-empregados, já abriram seus pequenos negócios.



Uma curiosidade é que os bolivianos denominaram uma praça no Canindé (outro bairro com forte presença boliviana) como Praça Kantuta nome de uma flor que cresce no altiplano e cujas cores, imitam as da bandeira boliviana.


Nesta praça, acontece todos os dia 24 de janeiro, a celebração das alasitas com direito a danças típicas, e libações à Pachamama, principal divindade andina.



Talvez a festa possa trazer estranhamento a muitos paulistas, mas é fato que hoje existem celebrações coinsideradas típicas da cidade que também foram trazidas por imigrantes, como a Festa de Santa Achiropita, dos italianos ou o Bunka Massuri, dos Japoneses, entre outros. Infelizmente, eles também tem sido vítimas de preconceito, assim como o foram os nordestinos, e os imigrantes italianos e espanhóis em seu tempo, mas acredito que assim como estes, no espaço de no máximo mais uma década, os bolivianos estarão tão integrados à realidade paulista que somente irão enriquecer ainda mais o mosaico cultural da cidade.

A eles o blog Terranauas deseja: Suerte!


2ª Foto e legenda: "Bolivianos em São Paulo: entre o sonho e a realidade"
Sidney Antonio da Silva
Instituto de Estudos Avançados - USP


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