quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Arrebatamento

Sugestão para uma cena de Teatro.

O sujeito anda de moto, na madrugada, com fome. Não há um lugar para comer. Eis que surge em letras garrafais de neon ao lado da bandeira de Israel, uma lanchonete. Lanches Jerusalém. Assim estava escrito.

- O que tem pra comer

- Só tem cachorro quente. Responde a dona, uma senhora simpática, de uns 50 anos.

- Puxa, mas na bíblia proíbe carne porco. Pensa ele. - Bem, que seja, então

- Ok, você venceu, cachorro-quente

Enquanto mordia, faminto, os nacos de cachorro-quente, percebeu que o gosto estava estranho... Como que estragado, ou quase. Mas come todinho o lanche e vai para casa.

Dorme de barriga cheia...

***

Tocam as trombetas dos anjos. Fumaça. Entre as brumas surge a figura de um homem barbado, cabeludo e vestindo uma toga.

Um transeunte, vestindo calças jeans e camiseta, cai de joelhos e pergunta:

-senhor é você?

- Sim, sou eu, eu voltei. As escrituras estão se cumprindo...

Transeunte, apanha rapidamente uma bíblia e como se fosse um dicionário, começa a folhea-la...

- Deixa eu ver... aqui está. Apocalipse...

Lê um trecho...

- Quer dizer que agora o senhor veio arrebatar a sua igreja?

- Sim, você é um dos meus?

- Eu pra falar a verdade, não. Sou muito profano, gosto de pagode e de namorar, de cervejinha no final de semana... falo palavrão.... e eu nunca resisto quando aquela gostosa da minha vizinha, casada, sai só de toalha na rua... Não, eu definitivamente não posso ser arrebatado... (Breve silencio)

- Mas olha, o meu vizinho, ele sim.. ele merece. Ele tem todos aqueles CD’s Gospel da Ana Paula Valadão... Ele não perde uma palestra do Silas Malafaia, paga o dizimo em dia e pela altura que ele que ele ouve estas musicas, eu diria que ele é o seu maior fã. Leva ele, senhor, please?

Uma bicha que estava ouvindo a conversa, entra neste momento e diz:

- Senhor, eu também tenho um vizinho, que olha... que homem santo... ele sempre tentou me ajudar sabe, mas eu é que não tenho jeito, mas ele... ah, ele é um homem de deus, leva ele senhor?

Entra o maconheiro

- Pô brother. Tem um cara lá na minha rua, que olha... bota cara santo nisso... ele vivia pegando no meu pé, sabe, para eu ir pra igreja dele, eu até fui um dia. Mas não adianta, eu curto mesmo é fumar meu baseado. Leva, ele, o cara merece o reino dos céus.

Nisso, entra o repórter e sabendo da conversa, vai logo dizendo...

- Pera aí que eu tenho o telefone de toda a bancada evangélica, leva eles senhor... tudinho, por favor?

Nisso, o homem envolto em luz responde... com forte sotaque acreano....

- mas eu num to dizendo (olha para cima) . Olha ai, pai, aqui tão querendo o paraíso aqui na terra e transformar o céu num inferno... Espertinhos

***
Desperta assustado com a visão que teve...

- Maldito cachorro-quente estragado

Foto 1: O melhor amigo do homem permanece ao lado das roupas de seu dono, arrebatado
Foto 2: Sera que ele teve tempo de se limpar?
Fotos extraidas do blog Saude, Saber e Virtude. Para ver mais fotos do arrebatamento, clique aqui

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Dançarino nas Teias da Realidade II


Ato 2 :Waka (água)

Como pode um assopro por de pé um guerreiro caído?

Mas é isso que faz o vê kuxi, o assopro sagrado que Nixi Waká me concedeu ao final da cerimônia. No dia seguinte, havia de fato, algo de novo, mais força, mais esperança.

Embarcamos as dez horas da manhã e iniciamos a decida do rio gregório.

- Nossa o tempo está tão bom pra viajar!

Observou uma das passageiras.
De fato, o tempo nublado nos mantinha livres do sol e uma brisa suave, do calor. Mas achei que aquele cenário não ia durar muito.

Apesar de cheio, o rio Gregório continua sendo um caminho de muoitos obstáculos com paus e balseiros que atravesam de um lado ao outro, obrigando-nos a uma atenção redobrada para nos abaixarmos quando necessário.

- Cuidado aí. Gritou o piloto Nainawá

E nossa canoa passou por cima de um pau submerso.

- Calma aí Nainawá, que ninguém aqui é acostumado a levar pau no fundo, brinquei.

Com cerca de três horas de viagem, paramos na aldeia Amparo. Caía um leve chuvisco, mas assim que desembarcamos a chuva engrossou. Achamos melhor aguardar. Mas após uma hora, a chuva apenas abrandou, sem cessar totalmente.

Descemos com cuidado o barranco escorregadio e embarcamos novamente. De nada adiantou esperar a chuva grossa passar pois com cerca de meia hora, ela se intensificou novamente.

Por sorte, tinha uma boa jaqueta que manteve meu peito aquecido, diminuindo a sensação de frio. Um boné me protegia dos pingos na cabeça e nos olhos.
A superfície do rio estava pontilhada de gotas de chuva e as árvores pareciam emanar uma tênue nuvem de vapor criando, apesar da viagem desagradável, um cenário lindo.

Percebi pela linha dágua que o nível das águas do rio estava subindo rapidamente, cobrindo as praias de areia enfeitadas de cana-brava.

Tivemos de parar algumas vezes nas estreitas praias para reabastecer o pequeno tanque do motor ou para reparos no seu hélice.

Na proa, auxiliava a puxar a embarcação para a praia, ou para tirá-la depois de feitos os reparos.

Surprendi-me comigo mesmo pela minha disposição naquelas condições. Normalmente a chuva, o frio e a mesma posição sentado na embarcação me fazem encolher-me sobre mim mesmo. Mas apesar de tudo estava bem disposto e pude auxiliar Nainawá nas vezes em que precisou.

Confundido na paisagem e no tempo, perdi a noção de quanto faltava para chegar até a vila São Vicente, na BR 364. Notei que minhas maõs estavam muito rugosas devido à chuva, como se tivesse ficado horas dentro d'água.

Meus olhos estavam embaçados com a água quando avistei a ponte sobre o rio Gregório. Lá estava um outro barco Yawanawá, pertencente à aldeia Mutum. Senti um grande alívio ao chegar à lamacenta vila São Vicente.

Emn poucos dias, a Parte III: Nissum

Foto: Edisson Caetano

* Para ler a primeira parte de " Dançarino nas Teias da Realidade" clique aqui.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Rio Acre ultrapassa indice de 1997 e Prefeito Raimundo Angelim decreta estado de calamidade publica

O Prefeito de Rio Branco- AC, Raimundo Angelim decretou no inicio da tarde deste domingo, estado de calamidade publica em todos os bairros e ruas atingidas pela cheia do rio Acre.

O decreto foi assinado depois de um estudo técnico, respeitando os parâmetros previstos pela Defesa Civil.

O prefeito ressaltou que o decreto não é vigente para a cidade toda, mas apenas para as ruas e bairros diretamente atingidos.

Segundo a prefeitura, o estado de calamidade pública permite a retirada de famílias de áreas de risco mediante o uso da força, caso for necessário. Nas áreas alagadas há riscos a vida e saúde das pessoas e não há como o poder público prestar assistência. Nos abrigos, pelo contrário, há atenção permanente de profissionais de saúde do governo e prefeitura.

Nos bairros alagados na região da Sobral, os problemas sanitários são maiores do que nos bairros ribeirinhos. Há muito lixo e esgoto acumulado em aguas paradas, extremante danosas a saúde.

Acima da Cota histórica

O rio Acre atingiu na manhã deste domingo o nível de 17,64 mts na régua de medição do bairro 6 de agosto. Segundo a defesa civil como foram feitos ajustes pela Agência Nacional das Aguas, este índice representa cerca de 4 cmts a mais do que os 17,67 mts atingidos na cheia de 1997.

Em Brasileia o nível das aguas do rio Acre abaixam rapidamente, deixando para trás um rastro de destruição. Há a expectativa de que em Rio Branco, ocorram problemas semelhantes devido a retração do solo com a retirada das aguas, causando danos a infraestrutura urbana.

Rodoviária deve ser interditada em questão de horas

O Terminal Rodoviário de rio Branco, no segundo distrito já esta sendo afetado pela alagação. De todas as seis saídas, há ainda um estreito canal de uma única rua que ainda permite a passagem precária de automóveis e motocicletas.

Segundo a prefeitura, os funcionários da RBTRans já estão preparando as mudanças para que as empresas continuem a embarcar e desembarcar passageiros em áreas distintas.

As mudanças serão informadas através do site da prefeitura de Rio Branco.

Nível do Rio Acre em Rio Branco

17,64 m

Medição das 12h - 26/02/2012

6.400 pessoas desabrigadas alojadas em abrigos da Prefeitura (1.702 famílias)

24.766 imóveis atingidos

99.063 pessoas atingidas pela água

3,64 m acima da cota de transbordamento (14m)

Bairros e comunidades atingidas
38 bairros na área urbana e 14 comunidades na área rural.

Níveis dos Rios do Acre

Cruzeiro do Sul: 13,53 m (cota de alerta: 11,40 m)
Riozinho do Rôla: 17,70m
Assis Brasil: mais de 4,25m
Xapuri: 10,57m
Brasiléia: 6,36m
Sena Madureira: 17,94m
Boca do Acre: 20m (cota de transbordamento: 20m)
Purus: 20 m

Fotos: 1- Sergio Vale (Assecom) ; 2- Marcos Vicentti (Ass. Com da PMRBR), 3- Jornal A Tribuna

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Memorias de um alagado


No ano de 1980 vivia em Porto Alegre-RS. Naquele ano, a cidade foi surpreendida com uma das maiores alagações de sua historia ate então.

Naquela época atribuiu-se a alagação a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Estudiosos diziam que o aumento na superfície alagada teria aumentado também o volume de agua evaporada e por conseguinte, as precipitações “diluvianas” que se seguiram.

Aquele havia sido um dia quente de verão. Eu e meu irmão brincávamos em uma destas piscinas de lona para nos aliviar do calor. Morávamos em um bairro de classe media em Porto Alegre. Meu pai viajara para Santa Catarina a negócios enquanto minha mãe ficara em casa cuidando de mim e de meu irmão, com o auxilio de Vera, uma jovem que morava conosco.

A noite após exaustos de tanto brincar, adormecemos em frente a TV e ao invés de sermos colocados em nossas camas, fomos colocados juntos na cama de minha mãe.Um pequeno detalhe pode ter nos salvado a vida.

Lembro-me apenas de ser carregado, sonolento por Vera as pressas, para fora de casa. Caímos os dois. Vera escorregou no piso molhado e fomos ambos para o chão. Lembro-me da pancada forte em minha cabeça que me despertou por completo com uma grande dor.

Fomos levados para a casa ao lado. Nossa vizinha era Dona Percília, uma gaúcha do “pé rachado” (acho que ela era de Bagé ou São Borja) com forte sotaque, gente de raiz.

Sua casa, muito mais simples do que a nossa, era de madeira, erguida sobre palafitas (ou barrotes, como se diz no Acre) e não foi afetada pela enxurrada. A agua simplesmente passou por debaixo de sua casa, sem nenhum prejuízo.

Fomos bem cuidados em sua casa, sentia uma forte dor de cabeça devido a queda, mas a situação de Vera era ainda pior.

No dia seguinte, a agua como veio, foi, deixando apenas rastros de seu estrago. Rastros impressionantes. Não fora uma alagação como a que assistimos em Rio Branco este ano. Foi mais como uma enxurrada, uma tromba d’água que arrasta tudo em seu caminho e vai embora.

Nosso muro de alvenaria fora derrubada pela força das águas. Uma botija de gás arrastada por centenas de metros do outro lado da rua foi parar no nosso quintal. A armação metálica de nossa piscina ficou totalmente retorcida.

Do lado de dentro, muita lama e o susto: o armário havia caído sobre a cama que normalmente dormíamos, mas por obra do destino ou acaso, não naquela noite.

Do outro lado da rua, um estacionamento foi invadido pelas águas e os carros lançados uns com os outros. No dia seguinte assistimos curiosos as imagens da destruição por toda Porto Alegre. Corpo de Bombeiros ou prefeitura não estavam preparados para o desastre e as ações demoraram a acontecer.

Em nossa casa, de todas as pessoas, Vera foi a mais afetada e passou a ter dores de cabeça constantes após a queda. Voltando ao normal somente após meses de tratamento.

Em conversas, lembramos ate hoje do que aconteceu, e se pudemos tirar um lição disso tudo, certamente foi o respeito que as forças da natureza incutiram sobre nós, de maneira indelével. Confronta-la quase nunca é a melhora saída. Conhece-la, respeita-la e humildemente se adaptar a ela parece ser um caminho mais simples e mais eficaz de convivência.

Sobre o incidente na seis de agosto


Um voluntario de apenas 19 anos que fazia a retirada de moveis e eletrodomesticos de moradores desabrigados com a cheia, acabou morrendo apos receber uma descarga eletrica de um "gato" instalado inadvertidamente por um morador.

Leia a noticia no site Banzeiro

O triste incidente, prova do modo mais triste possivel que a reivindicaçao dos moradores que fechou a pista antes da quarta ponte no ultimo dia de carnaval nao era possivel de ser atendida.

O incidente, comentado aqui no blog Terranauas no inicio da semana desencadeou uma açao policial que foi amplamente divulgado pela midia oposicionista.

Nao e preciso ser guru, e nem paje, para perceber que aquilo era tudo um circo armado. Mas o que me espanta eh que a PM, representando o governo do estado tenha desempenhado extamente o papel previsto no "script".

Fato eh tambem que mesmo no site AC 24 horas, declaradamente, de oposiçao, muitos leitores afirmam terem concordado com açao do governo.

Liberar a quarta ponte era essencial para liberar o trafego de um transito ja asfixiado em uma cidade em estado de emergencia.

Ainda assim, insisto que sejam encotradas novas saidas para crises semelhantes, que como seria de se esperar em um ano eleitoral, serao comuns. Fazer o papel esperado pela oposiçao e depois reagir contra a imprensa oposicionista servira somente para reforçar a imagem de um governo anti-democratico. Eh preciso estar um passo alem.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Governo Federal anuncia 5 milhões de reais para desabrigados no Acre

O Ministro da Integração, Fernando Bezerra acaba de anunciar na manhã desta sexta-feira recursos da ordem de 5 milhões de reais para o Acre. São 2 milhões de reais para a prefeitura de Rio Branco e outros 3 milhões para o Governo do Estado investir nas cidades mais afetadas pelas alagações. Estes recursos são exclusivamente para atendimento às famílias desabrigadas.
"Em um segundo momento, após abaixar o nível das águas serão liberados novos recursos para investimento na recuparação da infra-estrutura."


O Ministro das Cidades, Agnaldo Ribeiro que também está em Rio Branco anunciou a contrução de 3 mil e 700 casas populares e a inscrição do Acre em um programa do governo federal para reduzir o déficit habitacional e retirar os moradores de áreas de risco.
O anúncio foi feito no Parque de Exposições de Rio Branco, no segundo distrito da capital, onde estão alojados em abrigos provisórios, cerca de 4 mil pessoas. Outras três mil estão abrigadas nas sedes do Sebrae, Sesc Bosque e em stands na Arena da Floresta.

Segundo o Governador Tião Viana, os prejuízos totalizam mais de 12 milhões reais. O Minsitro da Integração. Ele apresentou ao ministro um plano de um grande projeto habitacional próximo ao Distrito Industrial da Capital.

Ministro da Integração visita áreas alagadas e desabrigados em Rio Branco

O Minsitro da Inegração Nacional, Fernando Bezerra pousou por volta das 9:00 da manhã desta sexta-feira no estádio José de Melo em Rio Branco. Acompanhado do governador Tião Viana e do prefeito João Angelim eles se dirigem para as áreas alagadas e para o Parque de Exposições onde encontra-se o maior número de desabrigados.

A medição mais recente do rio Acre na capital indica que o nível das águas continua a subir, mas em ritmo decrescente. A última informação é de que o rio atingiu 17,52 mts na régua da defesa civil instalada no bairro 6 de Agosto.

Depois de visitar os desabrigados, o ministro deve apresentar dados sobre as ações de governo na Biblioteca Estadual.

Mais informações a qualquer momento.


Boletim da Alagação da Prefeitura de Rio Branco
Nivel das águas em Rio Branco

17,52 mts

Medição das 6h - 24/02/2012

5.697 pessoas desabrigadas alojadas em abrigos da Prefeitura (1.505 famílias)

1.897 pessoas retiradas pela defesa civil e alojadas em casas de amigos ou parentes (662 famílias)

Total de desabrigados em Rio Branco: mais de 6.000 pessoas

14.300 imóveis atingidos

57.264 pessoas atingidas pela água

3,52 m acima da cota de transbordamento (14m)

Bairros atingidos
45 Áreas divididas entre bairros e comunidades rurais (Área Urbana – Bairros 06 de Agosto, Ayrton Senna, Adalberto Aragão, Aeroporto Velho, Terminal da Cadeia Velha, Baixada da Habitasa, Base, Conjunto Jardim Tropical, Boa União, Glória, Cadeia Velha, Cidade Nova, Palheiral, Triângulo Novo, Taquari e Quinze. Área Rural – À jusante da Cidade de Rio Branco: Bagaço, Extrema, Colibri, Limoeiro, Quixadá, Panorama, Vista Alegre, Catuaba, Extrema II, Liberdade, Belo Jardim (Ribeirinho). À montante da Cidade de Rio Branco: Benfica (Ribeirinho), Capatará, Moreno Maia (produtores residentes ao longo do Rio Acre e Caipora). Riozinho do Rôla: Água Preta, Barro Alto e outros produtores ribeirinhos ao longo do Riozinho do Rôla, Vai-se-ver, São Raimundo e Espalha)

Níveis dos Rios do Acre

Cruzeiro do Sul: 14,44 m (cota de alerta: 11,40 m)
Riozinho do Rôla: 17,91m
Assis Brasil: mais de 4,70m
Xapuri: 15,56
Brasiléia: (vazante, acima da régua e sem comunicação)
6.000 pessoas desabrigadas
Sena Madureira: 17,32m
Boca do Acre: 19,72m (cota de transbordamento: 20m)