quarta-feira, 28 de março de 2012

A Defesa de Caim

Há uma história por trás do crime que chocou Cruzeiro do Sul, que ainda que não justifique a maneira brutal como foi cometido, ajuda a entender o que leva um ser humano a cometer tal violência.

Leia a reportagem

O "Caim do Ramal 3" é natural de Chapecó, no oeste catarinense, Jorge deixou sua terra natal aos 4 anos de idade. Desde então tem vagado com a família por diversos estados: Mato Grosso, Amazonas, Rondônia e por último, o Acre.

Nos dois últimos anos, Jorge estava cuidando da propriedade de seu irmão Gerônimo, ausentado pelo período.

Segundo testemunhas, Gerônimo ao retornar teria expulsado Jorge de suas terras, sem direito a nada. Moradores do ramal 3 afirmam que Gerônimo vivia ameaçando de morte o seu irmão Jorge.

“Era com a espingarda na mão e o terçado, na outra”, disse Jorge à nossa reportagem.

Visivelmente confuso e trocando as palavras, Jorge na verdade alega legítima defesa no caso.

“Eu só matei por que não tinha outro jeito, porque se tivesse, eu não teria feito. Se eu não tivesse tirado a vida do paciente (?) ele tinha tirado a minha”.

Uma moradora que não quis se identificar, disse que se for chamada irá testemunhar a favor de Jorge “ele matou para não morrer”, disse.

O Caim bíblico por Saramago

O escritor português José Saramago, propôs uma nova interpretação do mito de Caim e Abel.

Para ele, a disputa entre os irmãos pelo amor de Deus e a preferência manifesta por este por Abel, seria a raiz da relação excludente que os hebreus fazem de sua relação com o divino, em relação aos outros povos. Relação que é reforçada em Moisés com a idéia de "povo escolhido "e transmitida ao cristianismo pelo velho testamento.

O motivo da discórdia fora que Caim ofertara frutas ao senhor, mas este teria desprezado o presente. A recusa é interpretada pela maneira pouco auspiciosa da fumaça das frutas lançadas ao fogo. Abel por outro lado, lança ovelhas ao fogo e a fumaça sobe em uma grande coluna, interpretada como "aceitação".

Saramago explica que a tal "coluna" não se deve a nenhum efeito "sobrenatural" e simplesmente ao contato da gordura do animal com o fogo. (Quem nunca viu isso no "churrasco"?)

Uma análise antropológica avaliaria que o texto bíblico é na verdade uma simples afirmação do modo de vida pastoril sobre o antigo modo caçador-coletor.

Caim, revoltado pela relação privilegiada de Abel com o "Todo-Poderoso", parte para a agressão e mata Abel.

Caim, é expulso da convivência de seus pares, mas é "presenteado" com uma mulher (que o velho testamento não explica de onde veio) e com um sinal que lhe garante "imunidade".

Na verdade, a punição ao assassinato de Abel, mais parece um prêmio: com sua mulher e "imunidade" sai pelo mundo pré-diluviano afora. O sonho de qualquer mochileiro. Caim é o aventureiro paleolítico. (Se fosse hoje, ganhava ainda uma moto com o tanque cheio)

Moral da história: deus não gosta de "frutinhas".

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