quinta-feira, 5 de abril de 2012

Professores Indígenas são excluídos do Campus Floresta da UFAC

Acabo de tomar conhecimento de que os professores indígenas do curso de docência da UFAC foram todos transferidos para o Hotel Lucca Samara. Suas aulas agora acontecem no auditório de um hotel.

A UFAC deveria se envergonhar, por excluir do convívio acadêmico os professores que estão se preparando para dar aulas nas suas aldeias.

Se hoje o Campus Floresta conta com 13 cursos, deve-se em grande parte à existência de 12 povos indígenas na região.

Os índios serviram muito bem ao propósito de marketing quando foi para justificar o envio de verbas para o distante Juruá:

"Temos a maior biodiversidade do planeta e povos indígenas cujos saberes tradicionais podem orientar a pesquisa científica. Faremos o diálogo entre os saberes"

Um discurso bonito que encontrou eco em Brasília. Não fosse por esta razão, o que justicariam os investimentos nesta região? Valeria muito mais a pena ampliar os cursos na UFAC em Rio Branco, ou em qualquer outro lugar.

Dizem que muitos acadêmicos pseudo-brancos tinham "nojinho" de compartilhar o espaço acadêmico com os indígenas. Digo, pseudo-brancos já muitos dos "arianos" são em sua grande maioria, MESTIÇOS, como a maior parte da população brasileira.

Mas o campus floresta se livrou do problema, mandando os "índios" para bem longe. Agora eles ficarão no centro da cidade, ainda mais vulneráveis ao alcoolismo, potencializado pela solidão e pela distância de suas famílias e de suas aldeias.

A desculpa que deram foi que o espaço anteriormente utilizado, o Centro Diocesano de Treinamento, não entregou a documentação para a licitação que acabou sendo vencida pelo hotel.

Falta de interesse também.

Nada contra o hotel, mas o espaço não poderia ser mais inadequado para estas atividades.
Um auditório estreito e um local que não permite a troca de informações entre os professores das diferentes aldeias e os exclui do convívio com os demais acadêmicos que também teriam muito a se beneficiar com esta troca. Este é o sentido de uma Universidade

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Valorizar o saber tradicional é estratégico para o país

O que deixa indignado é de que estes povos são legítimos donos do campus floresta, e estão sendo espirrados para fora como seres indesejáveis. A pequena comunidade acadêmica deveria tratá-los como quem cuida de um tesouro. Afinal, a experiência destes povos é a porta e a chave para o conhecimento da tão cantada em verso e prosa "biodiversidade da região".

E para os perfeitos idiotas que não sabem do que estou falando, experimente fazer o seguinte: tente achar a cura para uma determinada doença através de amostragem pura e simples. Cruze dados de milhares de plantas com outros dados laboratorias de enzimas e proteínas e tente chegar a uma cura. Daqui a 200 anos a gente conversa. Assim seria a pesquisa científica sem levar em conta os saberes tradicionais.

Por outro lado, utilizar os conhecimentos indígenas nas pesquisas científicas, significa uma economia de tempo e dinheiro imensurável. Para um país pobre em recursos, aliar o saber indígena à pesquisa científica não é apenas "ético" mas é sobretudo estratégico para o país.

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Na verdade, enquanto o Campus Floresta cochila, o Campus Rio Branco faz todos os esforços necessários para levar o curso para a capital, pois reconhece que ter um curso como este significa poder acessar a recursos específicos, além de possibilidades quase infinitas de trocas e intercâmbios de conhecimentos.

E o Juruá, por não conhecer-se a si mesmo, e nem fazer questão disso, vai deixando mais uma oportunidade lhe ser tirada, bem debaixo do seu nariz.

Depois não reclamem quando estes mesmos índios DO JURUÁ fecharem contratos milionários com empresas estrangeiras pelos creditos carbono, ou pelo estudo de sua biodiversidade e nós, demais habiantes da região, ficarmos com a sensação de que fomos EXCLUÍDOS do processo.

* Foto Maná Huni Kuin - extraído do site da CPI

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