quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Há exatos 407 anos, morria Guy Fawkes, o homem que inspirou a máscara "anonimous"

Diego Vieira*

Há exatos 407 anos, morria Guy Fawkes. 

Fawkes foi um soldado católico que participou da "Conspiração da Pólvora”, um levante com o objetivo de explodir o Parlamento inglês utilizando trinta e seis barris de pólvora estocados sob o prédio durante uma sessão na qual estaria presente o rei e todos os parlamentares.

Os conspiradores avisaram seus aliados a manter distância do Parlamento no dia marcado. Porém, um dos avisos chegou aos ouvidos do rei, que ordenou uma revista no prédio. Assim acabaram encontrando Guy Fawkes guardando a pólvora.

Durante seu interrogatório, Fawkes permaneceu desafiante, se negando a fornecer informações. Quando lhe perguntaram o motivo de estar em posse de tanta pólvora, lhes respondeu que era "para explodir todos vocês desgraçados bêbados de scotch de volta para as montanhas sujas de onde vieram". Sua coragem acabou rendendo certa admiração do Rei James, que o descreveu como "um homem de resolução romana".

Essa admiração não evitou que o Rei ordenasse sua tortura "de maneira progressiva e planejada". Fawkes inicialmente resistiu aos tormentos e não forneceu informações além de declarar "que rezava todo dia a Deus para o avanço da fé Católica e a salvação de sua alma podre".

Contudo, após mais de uma semana de tortura, Fawkes cedeu e entregou o nome de oito conspiradores. Sua assinatura de confissão, que era pouco mais de um risco ilegível, é indicio do sofrimento ao qual foi submetido. Fawkes e os demais conspiradores foram condenados a serem estripados e esquartejados antes da morte por decapitação. Em um último ato de desafio antes de ser conduzido ao local de execução, Fawkes conseguiu se desvencilhar dos guardas e pular de uma escada, quebrando o pescoço e evitando assim a tortura. Seu corpo foi esquartejado e exposto publicamente junto com o dos outros conspiradores.

Até hoje o rei ou rainha comparece ao Parlamento apenas uma vez por ano para uma sessão especial, sendo mantida a tradição de se revistar os subterrâneos do prédio, antes da sessão. Na Inglaterra existe a tradição de celebrar no dia 5 de novembro a Noite das Fogueiras, onde bonecos com a imagem de Fawkes são desfilados na rua, despedaçados e por fim queimados.

Um verso tradicional foi criado em alusão à Conspiração da Pólvora:

"Lembrai, lembrai, o cinco de novembro
A pólvora, a traição e o ardil;
por isso não vejo porque esquecer;
uma traição de pólvora tao vil"

Frequentemente Fawkes é referido como o "o único homem que entrou no Parlamento com intenções honestas".

A graphic novel V de Vingança, com roteiro de Alan Moore e arte de David Lloyd, possui grandes influências da "Conspiração da Pólvora", onde um personagem que utiliza uma máscara inspirada no rosto de Fawkes tenta promover a revolução em uma Inglaterra fictícia. A estilizada máscara foi popularizada pelo filme homônimo, que transformou o rebelde em defensor da liberdade.

A "carreira" revolucionária da máscara foi iniciada por grupos de ativistas como o Anonymous, que a assumiram como "cara pública" em 2008. Esta máscara deu resposta à necessidade dos membros do grupo de proteger as suas identidades e, ao mesmo tempo, simbolizar a defesa pelos direitos individuais. Em centenas de protestos atualmente, milhares de pessoas têm envergado esta máscara nas manifestações contra a avidez dos bancos e das grandes empresas e a crise financeira mundial

Mas, ironicamente, a popularidade das máscaras (com 100 mil exemplares vendidos por ano em todo o mundo) gera sentimentos conflituosos aos ativistas mais radicais. A "face de Fawkes" é, desde o filme V de Vingança, propriedade da Time Warner, multinacional que é uma das 100 maiores empresas dos Estados Unidos, e cada máscara vendida acaba por pôr dinheiro nos cofres de uma empresa que simboliza justamente aquilo que os ativistas combatem.


* Diego Viera é filósofo e antropólogo da Universidade Federal do Ceará

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O homem que atravessou o rio Juruá com um “bolão” de barro


Dois amigos conversavam

- ... o seu primeiro milagre foi transformar a água em vinho, disse o primeiro

- Bem, há um sentido diferente nisto. Para os antigos, a vida do solteiro mudava da “água para o vinho”, quando este se casava. Como se a vida de solteiro, fosse sem sabor, em relação à vida de casado. Retrucou o segundo. E continuou, rindo: - mas o verdadeiro milagre é fazer com que a vida de casado continuasse tendo o sabor de vinho depois de cinco ou sete anos, ao invés de tornar-se azeda como o vinagre.

 - ... E com apenas dois peixes e cinco pães, Ele alimentou uma multidão. O que mais pode ser se não um milagre? Disse novamente o primeiro.

- Certa vez vi um milagre. Vi um homem atravessar uma multidão pelo rio Juruá, usando apenas um bolão de barro, disse mais uma vez o segundo. Quer saber como foi?

- Claro!

- O rio Juruá havia subido muito e com isso, a balsa que faz a travessia em Rodrigues Alves estava cerca de um metro e meio acima da rampa. Quando chegamos, havia uma fila com dezenas de carros, ônibus e caminhões. Eles aguardavam que a máquina do Deracre chegasse ao local para nivelar a rampa. Enquanto todos aguardavam confortavelmente em seus bancos, aquele alemão de pele branca e cabelos loiros desceu do carro, tomou em suas mãos um ‘bolão’ de barro, carregou-o até o local da rampa e deitou-o no chão. Sua atitude à princípio parecera infantil, piegas até. Mas, talvez por ser ‘gringo’ tenha ferido os brios dos cruzeirenses vê-lo enfrentando o sol inclemente do Juruá, enquanto orgulhosos “filhos da terra” aguardavam sentados na sombra. O resultado, foi que um a um foram também eles, pegando seus “bolões”de barro, e posicionado-os debaixo da rampa da balsa. Vendo aquele movimento, praticamente todas as pessoas em condições, juntaram-se ao trabalho, formando uma imensa fila de pessoas. Com cerca de cinco minutos, alguém apareceu com uma enxada, e logo em seguida, outro, com uma pá. Em pouco tempo, aquela massa disforme de acomodados, converteu-se em uma eficiente equipe de trabalho. Em quinze minutos, o barro alcançou a altura da rampa metálica da balsa, e os carros, ônibus e caminhões puderam atravessar.      
 Já ouvi alguém dizer que existem aquelas pessoas que acreditam em milagres, aquelas que não acreditam, e aquelas que sabem enxergar verdadeiros milagres em tudo, talvez eu seja uma destas. Naquele dia vi um milagre acontecer. Um milagre da iniciativa e da cooperação. 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Para pastor batista, "Dia do Evangélico" foi "Tiro no pé"

Marcos Lopes

Uma das maiores aberrações religiosas veio à luz recentemente, quando a Assembléia Legislativa do Acre aprovou o Projeto de Lei n. 51/2003, de autoria do deputado Helder Paiva (PSDB), instituindo feriado estadual, a data de 23 de janeiro como o Dia do Evangélico. O que está por trás disso? É preciso raciocinar para entender que estamos vivendo um momento perigoso. Exponho a seguir alguns pontos relevantes de reflexão.

Em primeiro lugar, o referido Projeto de Lei cavado, obviamente, pela Associação dos Ministros Evangélicos do Acre (Ameacre), fere um princípio religioso perseguido duramente pelos evangélicos históricos, que é o da independência entre igreja e estado. Os evangélicos do Acre, criando, um novo feriado, estão de alguma maneira interferindo na vida do estado, fazendo uma imitação barata do Catolicismo Romano, que de maneira escancarada interfere na vida do estado brasileiro com seus inúmeros feriados, dando a nação brasileira um prejuízo de milhões. Feriado traz prejuízos mesmo. Os feriados católicos são completamente inconstitucionais (o mais inconstitucional deles é o de 12 de outubro, dia da “padroeira” do Brasil, uma herançazinha do período da ditadura militar), visto que o estado é laico e não tem religião. Esse feriado sem graça criado pelos evangélicos também o é. Que mau exemplo! A história nos ensina que quando a Igreja se une ao estado ela se torna um monstro nojento. Se não vejamos: foi assim quando a Igreja católica se uniu ao Império Romano; Foi assim quando a Igreja Luterana se uniu ao estado na Alemanha; foi assim quando a Igreja Presbiteriana se uniu ao estado na Escócia (dizem que também fez alianças com a maçonaria); foi assim quando os anglicanos unidos ao estado inglês mataram, perseguiram, prenderam e desterraram; foi assim quando a Igreja Ortodoxa tornou-se oficial na Grécia. Algumas dessas aberrações (uniões entre igrejas e estados) começaram com pequenas intenções e depois o monstro era gerado. A igreja aliada ao estado é uma das piores tragédias que um povo pode presenciar.

Em segundo lugar os evangélicos envolvidos na obtenção da aprovação do tal projeto, sem perceber, criaram uma grande complicação para a nação, para o estado do Acre e para si mesmos. Talvez isso não seja percebido facilmente em um futuro próximo. Porém, movimentos e tendências religiosas dentro da história são melhor avaliados uma geração depois do seu início. Que males e benefícios terão causado é um tema importante nessas avaliações. Mas no caso do feriado do Dia do Evangélico, alguns desses males já podem ser facilmente previstos. Por exemplo, se o evangélico pode ter o seu feriado, por que razão o Espírita também não pode? E o budista? E o umbandista? Ou seja, está aberta a temporada de criação de feriados religiosos. Como os evangélicos idealizadores do bendito feriado se sentirão quando as outras religiões quiserem os seus feriados também? Se trinta religiões entrarem com pedidos de feriados e eles forem aprovados, o estado fica com um mês menos. E os futuros governadores vão sancionar novas leis para novos feriados? E quando os evangélicos de outros estados quiserem imitar o Acre? Ele está delirando, alguns podem dizer. Porém, para que cada novo projeto de feriado seja feito, basta que a religião interessada tenha um deputado que a represente.

A situação toda precisa ser interpretada também dentro de um contexto político. Ultimamente, os políticos têm tido livre acesso a muitos púlpitos evangélicos e muitas igrejas têm escancaradamente apoiado candidatos em suas campanhas políticas. É bem verdade que isso tem ocorrido muito mais dentro do meio pentecostal, mais alguns pastores tradicionais também entraram nessa. Que vergonha! Alguém precisa dizer a todos esses que igreja não é palanque, muito menos curral eleitoral. Eu soube de um político famoso que subiu no púlpito de uma igreja pentecostal estando embriagado. O oportunista estava tão “chapado” que na hora de fazer os agradecimentos trocou o nome da igreja. Estou dizendo essas coisas porque essa idéia maluca foi levada a cabo por alguns políticos (político não dá ponto sem nó, e esse projetinho sem graça será cobrado por muitos anos) e pela Ameacre, que se viram no direito de representar a classe evangélica sem consultar a mesma com respeito a estarem ou não a favor de ter o seu nome em um feriado completamente inconstitucional. A propósito, a Ameacre não congrega todas as tendências evangélicas locais. Talvez não congregue nem a metade. É bem provável que a maioria não concordasse se soubesse do que realmente se trata. Mais proveitoso do que criar mais um feriado inconstitucional seria ter coragem para derrubar aqueles que já existem.Refiro-me aos feriados religiosos.

Quanto ao respaldo bíblico, nem de longe tal projeto encontra apoio das Sagradas Escrituras. Os cristãos, pelas suas próprias crenças, não estão aqui para serem homenageados em um feriado que leva o seu nome. O dia deles ainda não chegou. Quem lê o Novo Testamento, e é honesto nas suas convicções cristãs, não tem nem dificuldade em ver que o próprio Jesus não apoiaria esse projeto inoportuno. O pregador galileu das praias e o seu primo (João Batista) dos desertos compareceram aos palácios, mas para serem julgados pelas autoridades por terem denunciado alguns dos seus pecados. Não para estarem buscando favores delas.

Assim, conclamo em primeiro lugar aos meus irmãos que criaram esse feriado. Que se arrependam pela tentativa de serem homenageados pelos governantes terrenos, mas também àqueles que congregam nas mais variadas igrejas a não se iludirem e saírem por aí dizendo que esse projeto é uma bênção. Isso não é uma bêncão, isso é um tiro no pé! Por fim, conclamo a advogados políticos, promotores, pastores sensatos e a cidadãos conscientes que pelos meios legais encabecem um movimento para derrubar esse feriado monstruoso. Assim estarão fazendo um grande favor à nação, ao estado do Acre, aos evangélicos e à democracia. Vou orar para não vomitar. Perdoem-me a franqueza. Graças a Deus terei o prazer de dizer aos meus amigos, aos meus filhos e esposa, bem como a igreja que pastoreio, que fiz o meu dever. Que muitos outros possam fazer o seu!

*Marcos Lopes é pastor da Igreja Batista Memorial do Residencial Mariana em Rio Branco. O artigo foi publicado em 2007 na seção de opinião do jornal Página 20. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Apoiadores de Marina fazem ‘plebiscito’ por nome de partido


“SEMEAR”, “Gaia” e “Plural” estão entre as opções.
A enquete foi organizada a partir de sugestões de internautas e reúne 40 nomes para serem escolhidos até às 12h da segunda-feira (21).
Os nomes mais votados para a nova sigla, até a tarde de ontem, eram “Semear” (Sustentabilidade, Educação, Meio ambiente, Ética e Renovação) e Movimento Sustentabilidade e Cidadania, segundo Geraldo Oliveira, membro do movimento Nova Política, grupo responsável pela consulta online.
Apenas participantes registrados pelo grupo podem participar da votação.
Entre as outras opções estão nomes como “GAIA”, “Rede Verde”, “Plural”, “Partido da Terra” e “Brasil Vivo”.
A proposta do movimento é levar as três opções mais populares para a própria Marina bater o martelo, o que deverá acontecer em um encontro na terça-feira, em São Paulo. Na ocasião, Marina irá conversar com seus simpatizantes sobre como será o processo para criar a legenda.
A escolha do nome é o que falta para os marineiros irem às ruas colher as cerca de 500 mil assinaturas necessárias para criar o partido. Para viabilizar a candidatura em 2014, a sigla precisa ser criada até outubro deste ano, prazo exigido pela lei eleitoral.
O movimento de apoio à Marina surgiu em 2011, após ela deixar o PV. Um ano antes, ela conquistou quase 20 milhões de votos na disputa pela Presidência.
Apesar do engajamento de grande parte dos membros, o grupo de apoiadores foi criado com o propósito de ser multipartidário e, segundo alguns membros, continuará com suas atividades independentemente da nova sigla.
Fonte: Folha On Line

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

domingo, 13 de janeiro de 2013

O Mundo de Jabor


Ele se dá ares martirizados de dissidente soviético quando tem vida mansa de aposentado escandinavo

Paulo Nogueira

O MUNDO DE JABOR, a julgar pelos seus textos, é sombrio. Nele, o Brasil “está evoluindo em marcha à ré”, para usar uma expressão de uma coluna.
“Só nos resta a humilhante esperança de que a democracia prevaleça”, já escreveu ele.
Bem, vamos aos fatos. Primeiro, e acima de tudo, se não vivêssemos numa democracia plena os artigos de Jabor não seriam publicados e ele não teria vida tão tranquila para fazer  palestras tão bem remuneradas em que expõe às pessoas seu universo gótico, em que brasileiros incríveis como ele devem se preparar para a guerra caso queiram a paz. Esta é outra expressão de um texto dele.
Comprar armas? Estocar comida? Construir um abrigo antibombas? Fazer um curso de guerrilha? Pedir subsídios para a CIA? Talvez um dia Jabor explique o que é se preparar para a guerra.
Quando sua mente viaja para fora é o mesmo apocalipse. Dias atrás, Jabor falou na tevê uma quantidade extraordinária de disparates sobre o caso Chávez. Se entendi, ele atribuiu a Chávez a existência de tanta pobreza na Venezuela. Jabor parecia exaltado, mas não de forma genuína. Era como se interpretasse o papel daquele velho tio do interior que ao chegar para uma visita se põe a falar interminavelmente sobre o iminente risco de bolchevização do Brasil e do mundo, e que você só acalma se colocar discretamente um frontal em seu uísque.
Pobres ouvintes.
Já escrevi muitas vezes que o Brasil sob Lula perdeu uma oportunidade de crescer a taxas chinesas. Já escrevi também que os avanços sociais nestes dez anos de PT, embora relevantes e inegáveis, poderiam e deveriam ter sido maiores. Mas somos hoje um país respeitado globalmente. Passamos muito bem pela crise financeira global que transtornou tantos países e deixou bancos enormes de joelhos.
Temos problemas para resolver? Claro. Corrupção é um deles? Sem dúvida. Mas entendamos: a rigor, onde existe política, a possibilidade de corrupção é enorme. No Brasil. Na China. Na França. Nos Estados Unidos. Na Inglaterra. Na Itália. Em todo lugar. Citei estes países apenas porque, recentemente, grandes escândalos sacudiram seu mundo político. Na admirada França, o ex-presidente Sarkozy é suspeito de ter recebido dinheiro irregularmente da dona da L’Oreal.
O problema na corrupção política é a falta de punição. Não me parece que seja o caso do Brasil. Antes, sim. No ditadura militar, a corrupção era muito menos falada, vigiada e punida.
O maior cuidado hoje é saber se não se está explorando o “mar de lama” da corrupção com finalidades cínicas e inconfessáveis, como aconteceu em 1954 e em 1964. O moralismo exacerbado costuma esconder vícios secretos.
A choradeira melodramática de Jabor não ajuda a causa que ele defende. Jabor representa a direita política. Para persuadir as pessoas de que suas idéias são corretas, são necessários argumentos melhores do que os que ele apresenta.
O primeiro ponto é que muito pouca gente acredita que o Brasil descrito por Jabor é o Brasil de verdade. Basta tirar os olhos de sua coluna e colocá-los na rua. A realidade é diferente.  Há sol onde na prosa jaboriana parece só existir treva. Jabor se dá ares de dissidente cubano quando tem padrão de vida — e de liberdade — escandinavo.
Jabor parece estar preparado não para a guerra, mas para permanecer no papel enfadonho e ranzinza de mártir, de vítima impotente de um país que, se fosse tão ruim assim, ele já teria trocado por outro, como fez Paulo Francis. Esse papel pode ser bom para palestras. Segundo um site que agencia palestras, “o palestrante Arnaldo Jabor mostra-se extremamente habilidoso ao aliar citações eruditas a uma visão crítica da realidade brasileira”.
Mas a choradeira não é boa sequer para a própria causa que ele defende — uma economia à Ronald Reagan em que o mercado não tenha freios ou limitações. Para erguer esse universo, são necessários argumentos inteligentes — e não pragas como as usuais. “Malditos sejais, ó mentirosos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas se  transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a alma.”
Tenho a sensação de que os editores de Jabor no Estado e no Globo não conversam com ele sobre o que ele vai escrever. Acho que deveriam. Às vezes um simples “calma, está tudo bem” resolve. Uma conversa prévia seria útil para Jabor,a causa, o leitor e o debate.

Paulo Nogueira é jornalista e está vivendo em Londres. Foi editor assistente da Veja, editor da Veja São Paulo, diretor de redação da Exame, diretor superintendente de uma unidade de negócios da Editora Abril e diretor editorial da Editora Globo.