segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O homem que atravessou o rio Juruá com um “bolão” de barro


Dois amigos conversavam

- ... o seu primeiro milagre foi transformar a água em vinho, disse o primeiro

- Bem, há um sentido diferente nisto. Para os antigos, a vida do solteiro mudava da “água para o vinho”, quando este se casava. Como se a vida de solteiro, fosse sem sabor, em relação à vida de casado. Retrucou o segundo. E continuou, rindo: - mas o verdadeiro milagre é fazer com que a vida de casado continuasse tendo o sabor de vinho depois de cinco ou sete anos, ao invés de tornar-se azeda como o vinagre.

 - ... E com apenas dois peixes e cinco pães, Ele alimentou uma multidão. O que mais pode ser se não um milagre? Disse novamente o primeiro.

- Certa vez vi um milagre. Vi um homem atravessar uma multidão pelo rio Juruá, usando apenas um bolão de barro, disse mais uma vez o segundo. Quer saber como foi?

- Claro!

- O rio Juruá havia subido muito e com isso, a balsa que faz a travessia em Rodrigues Alves estava cerca de um metro e meio acima da rampa. Quando chegamos, havia uma fila com dezenas de carros, ônibus e caminhões. Eles aguardavam que a máquina do Deracre chegasse ao local para nivelar a rampa. Enquanto todos aguardavam confortavelmente em seus bancos, aquele alemão de pele branca e cabelos loiros desceu do carro, tomou em suas mãos um ‘bolão’ de barro, carregou-o até o local da rampa e deitou-o no chão. Sua atitude à princípio parecera infantil, piegas até. Mas, talvez por ser ‘gringo’ tenha ferido os brios dos cruzeirenses vê-lo enfrentando o sol inclemente do Juruá, enquanto orgulhosos “filhos da terra” aguardavam sentados na sombra. O resultado, foi que um a um foram também eles, pegando seus “bolões”de barro, e posicionado-os debaixo da rampa da balsa. Vendo aquele movimento, praticamente todas as pessoas em condições, juntaram-se ao trabalho, formando uma imensa fila de pessoas. Com cerca de cinco minutos, alguém apareceu com uma enxada, e logo em seguida, outro, com uma pá. Em pouco tempo, aquela massa disforme de acomodados, converteu-se em uma eficiente equipe de trabalho. Em quinze minutos, o barro alcançou a altura da rampa metálica da balsa, e os carros, ônibus e caminhões puderam atravessar.      
 Já ouvi alguém dizer que existem aquelas pessoas que acreditam em milagres, aquelas que não acreditam, e aquelas que sabem enxergar verdadeiros milagres em tudo, talvez eu seja uma destas. Naquele dia vi um milagre acontecer. Um milagre da iniciativa e da cooperação. 

Um comentário: