sábado, 29 de março de 2014

Daniel, um produtor

Coalhada, Leite de cabra e derivados, doces e bolos artesanais, frutas de época.

Com um chapéu de vaqueiro e uma “guampa”de tereré na mão, um sujeito simpático com sotaque interiorano que atende  pela alcunha de Daniel “Cowboy” mostra com orgulho a sua produção familiar.
Ou melhor, o que restou dela depois que consumidores ávidos por produtos orgânicos levaram a maior parte.

“A coalhada e o queijo de cabra acabaram. Temos ainda pamonha de forno, bolo de macaxeira, beléu, tudo feito com ovos caipira”, conta.  

Com sua produção diversificada, Daniel poderia estar na Feira do Produtor Orgânico no Parque da Água Branca em São Paulo, mas está no Mercado do Produtor em Cruzeiro do Sul.

Na sua fazendinha, na Estrada no Canela Fina, Daniel cria cerca de 100 cabeças de caprinos e possui ainda outras 70 cabeças de gado bovino leiteiro, divididos em duas propriedades.

Goiano vivendo há 36 anos no Juruá e casado com uma cruzeirense, Daniel   produz leite de gado e de cabra em uma área de 40 hectares. “Eu preservo as APP`s e reservas legais da minha área total que é de 90 hectares. Não uso nenhum tipo de agrotóxico e a produção é satisfatória ”. A experiência de Daniel prova que não sãos as famigeradas “leis ambientais” que impedem a produção e ainda que é possível produzir de forma competitiva sem se render ao paradigma da agroindústria.

O segredo está não apenas na produção mas também na comercialização familiar. Esposa, filho, nora e cunhadas participam das vendas fazendo o contato direto com os fregueses.

Daniel não tem queixa de falta de apoio por parte do poder público.
“Da parte do governo, recebemos apoio do programa  Balde Cheio. Tive dois hectares mecanizados e calcariados. onde eu criava uma vaca por hectare, vou poder criar de quatro a até seis cabeças. Eles também dão assistência técnica. Basta ligar e vai um técnico na minha propriedade.”

Da parte da prefeitura, a mesma satisfação.

“A prefeitura também mecanizou uma área e o prefeito Vagner nos incentivou a trazer nossa produção para cá”, explica.

Apesar do jeito interiorano, a sistema de produção de Daniel representa hoje uma tendência contemporânea: produção orgânica e familiar e venda direta ao consumidor.

Isto acontece porque muitos produtores perceberam que a produção para a agroindústria, não deixa de certa, à sua maneira, uma “tirania” sobre a terra. Produtores engajados nos grandes mercados estão à mercê da agroindústria desde à compra de sementes e insumos, passando pela exigência de padrões cada vez mais rigorosos e sujeitos à endividamentos, caso a o clima e a natureza não funcionem como nas planilhas.  

A modalidade orgânica da agricultura tem se revelado vantajosa nas duas pontas: consumidores adquirem um produto saudável, enquanto produtores tem mais liberdade para trabalhar a suas propriedades de acordo com suas potencialidades e disponibilidade de mão-de-obra, água, sementes e adubos orgânicos, diminuindo sua dependência das grandes empresas e bancos.

Será que nós, consumidores acreanos, vamos primeiro “sabotar” a produção regional, comprando apenas das grandes redes de supermercados, para somente depois descobrir o valor e a importância desta produção?

*A propriedade de Daniel está localizada na Estrada do Canela Fina, próximo à entrada da UFAC.

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