terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Quem são os empresários que estão 'detonando' a BR?

O péssimo estado da BR 364, já beirando as raias da intrafegabilidade, como sempre, tem motivado as velhas acusações de superfaturamento na obra, por um lado, e de utilização acima do peso permitido, por outro.

As declarações do governador Tião Viana, em pelo menos dois meios de comunicação da capital, de que alguns 'empresários do vale do Juruá, de maneira criminosa estariam burlando a fiscalização em Sena Madureira e passando com cargas acima do permitido', causaram rebuliço, com os tradicionais meios de comunicação de oposição tentando imputar a acusação à todo empresariado.

O senador Gladson Cameli (PP) rebateu as acusações, afirmado que as mesmas, feitas de maneira genérica, serviriam, segundo ele, para criminalizar toda a classe empresarial da cidade. 

Sem isentar a responsabilidade do governo do estado pelas péssimas condições da rodovia, entregue ao DNIT, o superintendente do órgão federal para Rondônia e Acre, Sérgio Augusto Mamany, reiterou as acusações feitas por Tião Viana de que comerciantes de Cruzeiro do Sul atuariam como os principais responsáveis pela destruição da rodovia.

Segundo ele, carretas que levam mercadoria para comerciantes em Cruzeiro do Sul, trafegam com cargas de até 70 toneladas, quando o peso máximo permitido em portaria expedida pelo órgão é de 18 toneladas.
“Nós demos uma abertura para que casos emergenciais pudessem passar com o peso acima do permitido, mas se utilizaram dessa abertura e estão passando com todas as cargas como se fossem emergencial e isso contribuiu sobremaneira para a danificação da rodovia. Embora a gente tenha um posto de pesagem (Bujari), não conseguimos evitar esse tráfego”, disse ele. (Fonte: AC 24 Horas.)
Segundo informações internas, a  'malandragem' destes comerciantes seria embarcar a quantidade permitida de carga até Tarauacá e a partir dali, embarcar uma quantidade acima do peso permitido, aumentando seus lucros individuais e socializando o prejuízo pela estrada com o restante da população. Não por acaso, a rodovia apresenta as condições mais críticas de trafegabilidade justamente no trecho Tarauacá-Liberdade. A balança do rio Liberdade, que poderia fazer esta fiscalização está fechada desde que o DNIT assumiu a rodovia.

A preocupação com os danos provocados pelas carretas bi-trem à BR 364, foi trazido pelo responsável pela empresa Colorado, Linker Cameli, durante uma conversa com o governador. A Colorado é uma das quatro empresas designadas para as obras emergenciais de recuperação da rodovia. 

Apesar da aparente irritação do senador Gladson Cameli sobre a não divulgação dos nomes que estariam atuando com esta prática, ele, mais que ninguém deve ser o sabedor de quem são estes empresários.

Em Cruzeiro do Sul, são três os empresários que atuam com as tais carretas bi-trem na BR 364: o primeiro deles, é o próprio presidente da Associação Comercial do Alto Juruá, Assem Cameli, o segundo é o empresário do ramo de materiais de construção e combustíveis, Tião Cameli, e o terceiro, seria também um empresário do ramo de combustíveis, que não pode ser identificado pessoalmente até o presente momento.

Trechos Consolidados

O péssimo estado da rodovia encontra-se em um trecho específico, entre Tarauacá e o rio Liberdade, justamente o trecho, onde suspeita-se de que o excesso de carga tenha promovido danos acima do esperado.

O que pouco se comenta, é de que os dois trechos: entre o Juruá e o rio Liberdade e entre Rio Branco e Sena Madureira, apresentam condições muito boas de tráfego.

As boas condições da pista nestes trechos servem para alimentar o 'mito' de que a estrada quando feita por Orleir Cameli tinha mais qualidade.

O fato é que estes são justamente alguns dos trechos mais antigos da rodovia e também já foram refeitos algumas vezes. Na região entre Santa Luzia e o rio Liberdade, onde a estrada foi feita durante o governo Jorge Viana, a pista também teve de ser refeita pelo menos duas vezes. 

O mesmo vale para a região entre Sena Madureira e Rio Branco. Feita pela primeira vez por Orleir Cameli, a estrada passou por diversas manutenções e até bem pouco tempo também sofreu abalos e desbarrancamentos nas laterais.

Parte do problema pode ser de fato explicado pela questão do solo, como tem alegado o governo do estado, e como o próprio DNIT admite nesta nota, em que sugere maiores estudos técnicos e prevê inclusive, possível acréscimo no valor do km asfaltado. 

Contudo, apesar da velha tendência para que o juruaense, sinta-se único em suas agruras, vale lembrar que a rodovia entre Porto Velho e Rio Branco passou por processo semelhante, ainda que o solo seja mais propício à rodovia neste trecho. Segundo caminhoneiros que trafegaram nesta rodovia em seus primórdios, a rodovia levou pelo menos 20 anos para que fosse 'consolidada', ou seja, para que o leito, mais compactado, sofresse menos danos com o peso dos caminhões. 

Ainda assim, quem tiver a oportunidade de conhecer o que o excesso de peso pode fazer mesmo a uma rodovia já 'consolidada', sugiro um passeio pela mesma BR 364 entre Cuiabá e Rondonópolis, onde, por razões políticas que me fogem à compreensão, as balanças e postos rodoviários permaneceram desativados durante meses.

O mesmo vale, inclusive para a própria malha urbana de Cruzeiro do Sul. No bairro do Cruzeirinho Novo, por exemplo, o tráfego de caminhões caçamba carregados com peso acima do suportável para a via, tem acabado com o asfalto nas ladeiras do bairro. Afinal, empresários com os nomes 'certos' podem sempre contar com a leniência e subserviência do poder público. 

A expectativa de muitos, é que a estrada após continuas manutenções possa aos poucos ser toda ela 'consolidada'. Algo que demandaria, tempo, dinheiro, e principalmente a colaboração dos principais interessados na manutenção da rodovia, já que durante décadas, foram estes mesmos comerciantes que praticaram preços estratosféricos de suas mercadorias, alegando a falta de um acesso terrestre para extorquir a população da cidade.



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